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Os pastores

O pior para um pastor brioso era acancelar as reses cheias de fome Os pastores por Jorge Lage Em finais da década de cinquenta, há cerca se sessenta anos, só na minha aldeia havia uns oito rebanhos de gado, a saber: dos Pinto Azevedo (de Vale Pradinhos – Macedo de Cavaleiros) cujo pastor era o António Mateus, de alcunha «o Sardinha» que tinha uma memória prodigiosa; do casal do Capitão Ilídio Esteves, sendo pastor o Abel Caldeiras, dos homens mais íntegros e sérios que conheci, embora tivesse mau vinho; do Correia de Oliveira onde pastoreava o Miguel Mateus; do meu tio, António José Lage; do meu pai, Eugénio Lage, cujo pastor mais marcante foi «o Canhoto» (Adriano); do Carlos Meireles, cujo pastor mais sonante foi «o Campainha»; o dos Abelhas, por vezes, com o Arlindo mais no trabalho de paquete e o Rôla (João) como pastor; e o do Casal dos Limas. Com tantas cabeças de canhonas para alimentar não havia erva nem arbusto que crescesse muito. Incêndios só nalgumas moutas de silvas. E esta...

Aragonês / Tinta Roriz (Tinta)

Vinhos: grandes castas portuguesas Aragonês / Tinta Roriz (Tinta) Para quem gosta de Tempranillo (especialmente da Ribera del Duero), Sangiovese ou Carignan. A mesma uva que Tempranillo em Espanha. A Tinta Roriz é uma varietal muito fina de extraordinária qualidade, daí a sua presença em dois vinhos lendários produzidos na Península Ibérica: o Português Barca Velha e o espanhol Vega Sicilia. Esta uva também tem sido cultivada há séculos no Alentejo, mas sob o nome de Aragonês. Em anos bons, produz vinhos encorpados, escuros e muito aromáticos. A uva tem aromas finos e delicados de pimenta e bagas. A casta Aragonês tem rendimentos elevados e é indispensável para o lote de um bom Porto. Vinhos varietais tintos também estão a mostrar bons resultados, especialmente na região do Dão, enquanto os melhores lotes do Alentejo geralmente correspondem a amplas percentagens de Tinta Roriz tal como os tintos secos do Douro. Harmon...

O «Mês das Almas»

O «Mês das Almas» ou «Mês das Bruxas» por Jorge Lage «Halloween» Novembro é conhecido pelo «Mês dos Mortos», «Mês das Almas» e, também, pelo «Mês das Bruxas». Desde o séc. IV que a Igreja Síria tinha um dia para festejar «Todos os Mártires» e, passados três séculos, o Papa Bonifácio IV, dedicou-o a «Todos os Santos». Mais tarde foi fixado o dia 1 de Novembro. Costumava iniciar-se com uma festa vespertina, a 31 de Outubro, que em inglês se diz «All Hallow’s Eve» (ou seja «Vigília de Todos os Santos») evoluindo para «All Hallowed Eve», «All Hallow Een» e, por fim, «Halloween», como se diz hoje. A figura é a de Padre Fontes, numa foto obtida no Ecomuseu de Barroso, em Montalegre. Do lado esquerdo da imagem, uma das fachadas da Igreja da Misericórdia, próxima do castelo de Montalegre. A noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro começou a ser celebrada por grupos não cristãos, dando-lhe o sentido de bruxaria. No seu seguimento era preciso recordar todos os que já partiram e a Igreja justapô...

Ensinadores são os provérbios

De Jorge Lage e Maria da Graça, os provérbios! Em vinte de Janeiro dá o Sol no abixeiro. Lareira acesa é sol de Inverno. Pinheiro cortado em Janeiro, vale por castanheiro. Bons dias em Janeiro vêm a pagar-se em Fevereiro. Pela Lua Cheia não cortes a tua nem a alheia. À árvore caída todos vão buscar lenha. Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira. Não chovendo em Fevereiro, nem bom prado, nem bom palheiro. Faz o teu filho teu herdeiro e não teu despenseiro. Quando chove em Fevereiro, nem bom pão nem bom lameiro. Quer no começo quer no fundo, em Fevereiro vem o Entrudo. Casa de esquina, ou morte ou ruína. Temporã é a castanha, que por Março arreganha. Março de rabo, é pior que o diabo. Não te envaideças do que sabes, e repara sempre no que fazes.

A história da carga perdida e o desassossego na boda

Baseada em factos verídicos, a história da carga perdida e uma festa de casamento aconteceu na década de 1960, numa aldeia transmontana.  Está esta história contada em texto neste blogue. Relata-se neste vídeo, abreviando algumas partes e retirando mesmo alguns parágrafos. A carga perdida e a festa de casamento (início da história)

Fisgas de Ermelo

Fisgas de Ermelo, em plena Serra do Alvão Estrada Nacional 304, entre as aldeias da Várzea e Ermelo Em plena Serra do Alvão, no concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, ficam as Fisgas de Ermelo, uma das 21 Maravilhas de Portugal, em 2012. A imagem mostra, em segundo plano, as espetaculares quedas de água das Fisgas de Ermelo. Resultam da transição entre a zona alta de Lamas de Olo e o vale de Ermelo. Nesta transição, observa-se um enorme desnível, percorrido pelo leito do rio Olo. Ermelo

Empadão de qualquer sobra

Empadão, neste caso de sobras de carnes Sempre numa perspetiva de simplicidade e para que ninguém passe fome, aqui vai mais uma receita para uma refeição de almoço que, não sendo improvisada, é, contudo, confecionada com alguns restos de comida de anteriores refeições, que é conveniente aproveitar e não desperdiçar. Então, dentro do frigorífico, o que há de sobejo de outros dias que possa ser aproveitado para o almoço?  Carne de vitela, do nispo, já refogada e condimentada, umas lascas de presunto que restaram de uma merenda e umas rodelas de chouriço escondidas num dos recantos do frigorífico.  Com estes ingredientes sobrados, confecionaremos um empadão, se houver batatas em casa. E há, por acaso, há! As batatas deverão ser de boa qualidade, brancas. Num tacho suficientemente grande e largo, dependendo dos convidados, evidentemente, e após o aparo dos tubérculos, coloquem-se nesse recipiente com água já a ferver ou quase. Entretanto, coloque-se em outro tacho uma cebola corta...

Compota de Castanha

Compota de Castanha por Jorge Lage Ingredientes: 2 Kg de castanha; 1,5 Kg de açúcar; 0,5 litro de água; 1 limão, 1 pau de canela e erva-doce. Confeção: Leve ao lume as castanhas a cozer. Preparar a calda, levando ao lume a água, o açúcar, a casca de limão e a erva-doce. Deixar ferver durante 5 minutos (pérola leve) e juntar as castanhas, o sumo de limão e o pau de canela. Apurar em lume brando. Deixar arrefecer e só depois colocar dentro dos frascos. Receita de Olinda Carralas Penela da Beira - Penedono in "Castanha um fruto saudável" Nota: As compotas e as caldas de frutas eram uma forma de as famílias terem à mão as delícias do campo durante todo o ano. A minha saudosa e generosa avó, Maria Rosa Aleixo, deliciava-me com a aveludada geleia de marmelo, o divinal doce de ginja e a fabulosa compota de pêra ou pêssego a sorrir da compoteira e sempre pronta a saltar para a mais alva fatia de pão trigo. A minha mulher faz, igualmente, compotas tradicionais fabulosas, com que me v...

Rabanadas Conventuais

Rabanadas Conventuais por Maria da Graça Ingredientes: 1 pão cacete médio; 0,5Kg de açúcar; 2,5 dl água; 6 gemas; 1 ovo; 1 pauzinho de canela; 1 casquinha de laranja; canela em pó para polvilhar. Confeção: Convém que o pão seja comprado com 2 dias de antecedência. No dia, corte o pão em fatias da grossura de 1 dedo. Misture o 0,5 kg de açúcar com a casca de laranja, a canela em pau e os 2,5 dl de água e leve ao lume; ferve durante 8 minutos exatos. Entretanto, bata as gemas e o ovo muito bem. Passe as fatias de pão, uma a uma, pelo batido e deite-as no açúcar fervente, deixe solidificar as gemas, retire-as e escorra-as. Vá-as colocando num prato e por fim polvilhe-as com canela em pó, se desejar. Enquanto as rabanadas estão no açúcar, se este começar a querer ganhar cor ou mais ponto, vá adicionando 1 ou 2 colheres de água quente.

Pão-de-ló de Vizela

Pão-de-ló de Vizela por Jorge Lage Ingredientes: 24 gemas de ovo; 3 claras de ovo; 400 gr de açúcar; 300 gr de farinha triga (tipo 55); 200 gr de açúcar para cobertura. Confeção: Batem-se as gemas e as claras com açúcar até se obter um preparado quase branco. Junta-se a farinha e bate-se até ficar misturada. Deita-se a massa em formas quadradas de lata forradas com papel costaneira (grosso). Leva-se a cozer em forno quente (220 graus centígrados). A meio da cozedura reduz-se o calor e deixa-se cozer. Estará cozido quando lhe espetar um palito e sair seco. Apaga-se o forno, deixa-se arrefecer um pouco e retira-se o papel dos lados. Com as 200 gramas de açúcar e um copo de água faz-se uma calda muito forte, (112 graus centígrados). Deixa-se amornar e depois espalha-se por cima e dos lados do pão-de-ló, com uma espátula ou colher de pau, em movimentos de vaivém, até a calda ficar opaca. Conserve-se em local seco e, de preferência, em recipiente fechado e forrado a papel absorvente (o pape...

A carga perdida e a festa de casamento (VII)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Sétimo episódio) Como foi possível? Assim continuavam nesta expressão, mal refeitos do sucedido e azucrinados perante a evidência da burrica ter perdido a carga. Mulheres, homens, crianças, todos gritavam e questionavam os dois rapazes sobre o que acontecera com o terceiro, sem que fossem dadas respostas claras e convincentes. Há que ir à procura do menino. O que terá sucedido? Após algumas hesitações, lá vão então de novo em direção ao moinho os dois rapazelhos, a burrica, sempre pronta a dar uma mão, e dois adultos mais afoitos. Uma vez mais, o animal toma conta do andamento, parecendo entender a urgência em encontrar o menino que sobre o seu lombo vinha acomodado.  Por ali abaixo, tinham já feito mais de metade do percurso e, para espanto de todos, a burra fica subitamente especada junto a um combro, assentado numa curva apertada e num dos lugares mais íngremes. Na base do combro contrária ao caminho, um denso giestal encobri...

Vale das Gatas: conversa com Eduardo Vilela (2ª parte)

Segunda parte do vídeo realizado em 09-10-2020, no Vale das Gatas, freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, concelho de Sabrosa, procurando reavivar aspetos dos trabalhos e rotinas dos mineiros e trabalhadoras e trabalhadores que contribuíam para a exploração do volfrâmio nas minas deste lugar! Vale das Gatas: conversa com Eduardo Vilela

Vale das Gatas: conversa com Eduardo Vilela

Alguns pormenores dos trabalhos que se desenvolviam para a exploração do volfrâmio nas minas do Vale das Gatas, na freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, concelho de Sabrosa! (09-10-2020) Vale das Gatas: conversa com Eduardo Vilela (2ª parte)

Lugares ao lado do Douro

Não pertencendo ao Douro, lugares há que com ele se identificam Lugar das Paredes, uma das entradas para a freguesia de S. Lourenço, dela fazendo parte! Muito se fala hoje do Douro e da região vinhateira do Alto Douro. Ainda bem para a região, para as populações que aí vivem e empresas que fazem da cultura da vinha e produção de vinhos o seu negócio, contribuindo para o aumento do emprego e o desenvolvimento local e regional. Mesmo as regiões vizinhas lucrarão de alguma maneira com esse desenvolvimento. De facto, o Douro é conhecido nos quatro cantos do mundo, pelos seus vinhos de altíssima qualidade e pelas condições de excelência oferecidas aos turistas através do alojamento em pequenos hotéis e casas de turismo rural, e cruzeiros de luxo a percorrerem o rio Douro desde a sua foz, no Porto e Vila Nova de Gaia até Barca d’Alva. Também a partir daí, já no Douro Internacional, os barcos de recreio e mini cruzeiros são meios ótimos para conhecer essa parte do rio por entre as suas arriba...

A carga perdida e a festa de casamento (VI)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Sexto episódio) A burrica da tia Alice foi assim incumbida de ajudar os três moçoilos, após a infeliz ideia destes terem esvaziado a botelha do vinho tratado, provocando-lhes tamanho incómodo que julgaram nunca poder acontecer-lhes, de tal modo era docinha a pomada e tão bem escorregava goela abaixo. A burrica, acostumada com a tia Alice a palmilhar o caminho, que dava depois de algumas ramificações para os pontos principais da aldeia, sempre com o máximo de sacos de farinha bem apertados ao lombo, desembaraçava-se por ali acima com firmeza e numa passada que os rapazelhos dificilmente acompanhavam, pois a carga era desta vez muito mais leve. Valendo-se a burrica do fraco peso do rapazinho combalido, meneando as ancas, afocinhava de vez em quando para manter o equilíbrio e dar força às patas dianteiras. Determinada, trepava tão rapidamente aquele chão irregular de pedras soltas que os dois, com passad...

Freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, 06-10-2020

Alguns aspetos da natureza na freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, concelho de Sabrosa!

A carga perdida e a festa de casamento (V)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Quinto episódio) O desgraçado do rapaz ficou mesmo anestesiado, permanecendo estatelado ao lado da mó, no seu movimento constante sem nada perceber sobre o ocorrido. Melhor sorte tiveram os outros dois que, ao contrário daquele, aliviaram a digestão, libertando-se de ardores, deixando no espaço do moinho uma mistura de cheiros esquisitos e azedias. – Valha-me Deus. O que aconteceu? – disse a tia Alice deveras assustada, lamentando-se do disparate que tinha cometido, deixando os meninos sozinhos com a botelha. Passado um pouco de tempo, resfriou-se a tia Alice Carolina com um pouco de água fresca no rosto, fazendo o mesmo aos dois mais escorreitos e ao coitado, agora já encostado a dois sacos de farinha, mas continuando sem tugir nem mugir.  Refeita da aflição, a tia Alice logo arranjou modo de resolver este imbróglio que se lhe tinha deparado. Disse então que os dois deveriam levar...

Cávado e Rabagão

Rios Cávado e Rabagão: tão importantes como esquecidos Barroso da Fonte Publicam-se hoje livros num ritmo só comparável com a «raspadinha», o jogo da crise popular. E vendem-se livros em livrarias, nas grandes superfícies de bens comestíveis, nas estações dos Correios, nas lojas de electrodomésticos, nos postos de abastecimento e nos quiosques, mesmo nos mais exíguos. Passou a haver menos jornais, menos fumadores na classe adulta e mais bugigangas que estragam os dentes da pequenada.  Mas não há, lamentavelmente livros que falem da hidrografia, das barragens, das eólicas, dos moinhos de vento, das azenhas que tão úteis foram, assim como os moinhos movidos a água que eram comunitários e que armazenam histórias e «estórias» de contar e esperar por mais. A par dessa falha avultam idênticas ausências desse património construído cuja origem remonta aos tempos primitivos. E amanhã será tarde. O rio Cávado, inteiramente Português, assim como o Rabagão seu principal afluente, deram azo, e...

Licor sem nome

Licor de aguardente, limão, açúcar e mel Numa consulta breve a duas edições do dicionário da língua portuguesa, pela necessidade de inserir este pequeno artigo sobre determinado licor caseiro na rubrica mais adequada das que fazem parte dos temas do blogue NetBila, concluí que “Gourmet” será a mais próxima para o assunto deste licor simplório que apresento. Se estiver enganado, talvez algum dos leitores faça o favor de me esclarecer, ou eventualmente sugerir nova rubrica. Assim, “Gourmet” é a palavra francesa que significa "apreciador de vinhos". Por outro lado, “Gourmet” é uma pessoa, geralmente entendida em vinhos e em gastronomia, que preza a qualidade e o requinte culinários, ou ainda produto de elevada qualidade para uso culinário.  No caso deste licor, ele não tem como componente o vinho, mas sim a aguardente bagaceira, também designada por bagaço, por ser feita a partir do bagaço de uva. O licor é, portanto, uma bebida açucarada que não é fermentada, cuja base é o álco...

Provérbios

Provérbios, por Jorge Lage e Maria da Graça Sardinha de São João já pinga no pão. A nevoínha no S. João, tira vinho e azeite e não dá pão. No S. Pedro vai ver o olivedo; se vires um bago conta por um cento. Enxame de Junho, nem que seja como punho. A cortiça em Junho sai a punho, em Agosto a mascoto. Nem mulher casada nem vinha vindimada! Em Julho, ao quinto dia verás que mês terás. Julho abafadiço fica a abelha no cortiço. O que arde cura, o que coça sara e o que aperta segura. O burro trabalha, mas é o cavalo que recebe os galões. A palavra vinda do coração mantém-se quente durante três invernos. O escorregar da língua é pior do que o do pé. A quem é famoso não faltam parentes. Quando não se pode morder, de que serve mostrar os dentes? Vale mais uma verdade amarga do que uma mentira doce. Felicidade não é ter o que se quer, mas querer o que se tem. A jeira de Maio vale os bois e o carro; a de Julho vale os bois e o jugo. É como o Maio de Portugal, que carregaram de jóias e fugiu com...

Pudim de Maçãs e Castanhas

Pudim de Maçãs e Castanhas, por Jorge Lage Ingredientes: 2 maçãs; 300 g de castanhas; 1 copo de vinho branco; 50 g de açúcar e 2 colheres (sopa) de açúcar baunilhado. Confeção: Coza as castanhas durante 20 minutos. Escorra-as e pele-as, misturando-as com as maçãs cortadas às rodelas. Ponha-as numa panela ao lume brando, cobrindo-as com o vinho e deixe-as cozer até a fruta se desfazer. Passe-as no passe-vite e recolha o polme numa forma pequena forrada de caramelo. Coza em banho-maria, até que o caramelo se tenha completamente liquefeito. Desenforme e polvilhe com o açúcar baunilhado. in CASTANEA - uma dádiva dos deuses

Aletria (de Mirandela)

Aletria (de Mirandela),  por Jorge Lage Ingredientes: 250 g de aletria; 200 g de açúcar; 1 litro de leite; 8 gemas de ovo; Canela e casca de limão. Confeção: Coza a aletria em água e escorra-a. Aqueça o leite e misture-lhe o açúcar e a casca de limão. Junte-lhe a aletria e deixe ferver lentamente. Num tacho à parte ponha um pouco do leite quente e, mexendo, vá misturando lentamente as gemas já batidas. Junte tudo e deixe ferver mais um pouco. Sirva-a, em travessas, polvilhada com canela, por cima. Receita adaptada, por Jorge Lage, do «Guia Mirandela».

A carga perdida e a festa de casamento (IV)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Quarto episódio) Enquanto a mó rodava sem parar pela força das águas do rio e a taramela cumpria cadenciada a sua função, despertando a tremonha no espaçado caimento dos grãos de cereal, os moçoilos ouviam agora longínquas e impercetíveis as palavras da tia Alice Carolina. Nem queriam acreditar nas reações imediatas da doce pomada – tratado, como lhe chamou a bondosa moleira.  Dois dos meninos recostavam-se de vez em quando, apoiando as cabeças numa das paredes enfarinhadas do moinho, mas logo se endireitavam impelidos pelo enjoo que sentiam; enquanto o terceiro, mais desamparado, balançava-se de modo irregular, insistindo, no entanto, na fixação da mó a andar à roda. A visão de várias pedras redondas em movimento constante e o tremedoiro da taramela rapidamente entraram nas engrenagens do cérebro. Apesar da força de vontade, não conseguiu manter o equilíbrio por mais tempo e tombou de olho...

A carga perdida e a festa de casamento (III)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Terceiro episódio) O mecanismo do moinho é algo que os três rapazelhos, vindos da festa do casamento a mando da noiva, estão já habituados a observar, sem, contudo, ligarem muita importância à complexidade do seu funcionamento. Arrumado o pão-de-ló e retirada a rolha do gargalo da botija – a garrafa que ficara do marido exatamente como a deixou quando partiu –, a tia Alice Carolina ia andando atarefada de um lado para o outro, antes de distribuir pelos três copinhos pequenas quantidades do líquido da garrafa, que sabia ser precioso conforme o seu Zé a informara em vida. Ali desabafou um pouco, contando algumas das suas amarguras, enquanto os moçoilos escutavam e admiravam a espessura e suave doçura daquele vinho antigo que uma alma caridosa um dia oferecera ao marido da tia Alice.  – Mas, meus “filhos”, tristezas não pagam dívidas, como costuma dizer-se. Por isso, vamos embora que ...

A carga perdida e a festa de casamento (II)

A história da carga perdida e o desassossego na boda (Segundo episódio) Coitada da tia Alice Carolina! Após mais um dia nas lidas das farinhas e simultaneamente cumprindo os encargos domésticos, cansada de tanto trabalho e do som repetido da taramela*, vai reunindo a farinha para os sacos e acondiciona-os a um canto do moinho, que transportará mais tarde na jumenta e entregará aos seus clientes, percorrendo diversos caminhos da aldeia – uma localidade, ao contrário da generalidade de outras em redor, formada por pequenos aglomerados de casas dispersos, o que torna mais longos os destinos. Ainda por cima, dirige-se periodicamente à aldeia próxima da sua, de modo a acatar as exigências do cliente que regressou lá das Áfricas e não tolera quaisquer atrasos. De cada vez que distribui a farinha pelos clientes, destes reúne mais sacos de grão, iniciando um novo ciclo de trabalho. Pressente a tia Alice Carolina pelo restolho que alguém se aproxim...