A carga perdida e a festa de casamento (IV)NetBila'News Avançar para o conteúdo principal

A carga perdida e a festa de casamento (IV)

A história da carga perdida e o desassossego na boda

(Quarto episódio)


Enquanto a mó rodava sem parar pela força das águas do rio e a taramela cumpria cadenciada a sua função, despertando a tremonha no espaçado caimento dos grãos de cereal, os moçoilos ouviam agora longínquas e impercetíveis as palavras da tia Alice Carolina. Nem queriam acreditar nas reações imediatas da doce pomada – tratado, como lhe chamou a bondosa moleira. 


Dois dos meninos recostavam-se de vez em quando, apoiando as cabeças numa das paredes enfarinhadas do moinho, mas logo se endireitavam impelidos pelo enjoo que sentiam; enquanto o terceiro, mais desamparado, balançava-se de modo irregular, insistindo, no entanto, na fixação da mó a andar à roda. A visão de várias pedras redondas em movimento constante e o tremedoiro da taramela rapidamente entraram nas engrenagens do cérebro. Apesar da força de vontade, não conseguiu manter o equilíbrio por mais tempo e tombou de olhos fechados, continuando a ouvir sem perceber o som provocado pela mó, agora transformado em zumbido, que por completo o embaçou.

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