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Cávado e Rabagão

Rios Cávado e Rabagão: tão importantes como esquecidos
Barroso da Fonte


Publicam-se hoje livros num ritmo só comparável com a «raspadinha», o jogo da crise popular. E vendem-se livros em livrarias, nas grandes superfícies de bens comestíveis, nas estações dos Correios, nas lojas de electrodomésticos, nos postos de abastecimento e nos quiosques, mesmo nos mais exíguos. Passou a haver menos jornais, menos fumadores na classe adulta e mais bugigangas que estragam os dentes da pequenada. 
Mas não há, lamentavelmente livros que falem da hidrografia, das barragens, das eólicas, dos moinhos de vento, das azenhas que tão úteis foram, assim como os moinhos movidos a água que eram comunitários e que armazenam histórias e «estórias» de contar e esperar por mais. A par dessa falha avultam idênticas ausências desse património construído cuja origem remonta aos tempos primitivos. E amanhã será tarde.
O rio Cávado, inteiramente Português, assim como o Rabagão seu principal afluente, deram azo, em meados do século XX, a uma mudança radical na geografia das zonas mais fecundas das margens, sobretudo do Rabagão. A construção das barragens que se construíram ao longo desse sistema hidrográfico alteraram profundamente a fisionomia dos agregados populacionais. Por volta de 1950 o concelho de Montalegre tinha cerca de 32 mil habitantes. Com a ocupação dos terrenos e povoados que ficaram submersos, alguns integralmente, o concelho despovoou-se de alguns dos braços mais válidos. Famílias inteiras, embora, aparentemente, tenham sido recompensadas em dinheiro, abalaram para zonas mais quentes do Minho e da região do Alto Tâmega. E, concluídas as obras, ficaram submersos os melhores vales, deixaram de produzir-se imensos bens comestíveis e comerciáveis, como a batata, o milho e o centeio. Durante os anos de construção crescia a população laboral. Depois de concluídas, desandavam para outras paragens, deixando as ruínas dos casebres de tejolo que metem hoje dó, sempre que o nível da água das albufeiras baixa.

Barragem dos Pisões, Montalegre

Quem desde aí em diante nasceu em terras de Barroso, sobretudo aqueles que são oriundos de famílias que tiveram de abalar, gosta de regressar aos sítios que eram de seus antecessores. E quase sempre deparam com lacunas graves. Que eu saiba não há livros temáticos sérios e exclusivos sobre o antes, durante e depois dessa fase de construção. A barragem da Venda Nova entrou em funcionamento em 1951 e é integralmente alimentada pela água do Rabagão que nasce a 200 metros da antiga escola de Codeçoso da Chã, atravessa a EN 308 (Barracão-Montalegre), fazia moer dois moinhos dessa aldeia, passa numa antiga ponte romana de Peirezes e desagua em S. Vicente da Chã. Esse caudal e aquele que recolhe de outros seus afluentes, recuam até Morgade e ao Centro das duas «Aldeias Novas» do Estado Novo, cobrem propriedades desse longo vale que pertencia aos aldeamentos de Morgade, Criande, Vilarinho de Negrões, S. Vicente da Chã, Penedones, Parafita, Antigo de Viade, Viade de Baixo e Travassos da Chã. Era o mais fértil vale dos 807 km2 que o concelho de Montalegre possuía. A Barragem de Pisões, também conhecida pelo Alto Rabagão, é a maior de todas as albufeiras construídas em terreno Português, é a primeira e a única que tem o sistema de bombagem e o seu caudal, abastece primeiramente esta e, depois a da Venda Nova que dista a uns 7 km a sul. Há dois túneis paralelos, um que a leva de cima para baixo e outro que a devolve (ou a bomba) de baixo para cima. Daí ser conhecida pelo sistema de Bombagem.
A de Pisões começou a ser construída em 1957, as obras terminaram em 1964 mas apenas foi inaugurada em 31 de Maio de 1966.
Manuel Miranda foi um dos seus obreiros. Mais tarde emigrou para a Alemanha e ali se radicou por muitos anos. Mas nunca deixou de ter residência alternativa, juntinho à EN 103 Chaves-Braga, mesmo à entrada de Pisões. Em artigo publicado no Povo de Barroso de 15 de Fevereiro, fala deste empreendimento em que se iniciou na vida e alerta para a importância em divulgar o papel desta e de todas as barragens do sistema Cávado-Rabagão. Carvalho de Moura fez manchete com foto e texto alusivo, encarecendo essa efeméride de grande importância para Barroso e para os Barrosões, mesmo daqueles que teriam aqui nascido se não tivessem abalado os seus pais e avós. Também o autor desta nota de leitura se sente na obrigação de responder positivamente. Por duas razões muito especiais: por ter nascido em Codeçoso, onde nasce o Rabagão e por ter encontrado nessa Barragem o seu primeiro emprego.

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