A carga perdida e a festa de casamento (VI)NetBila'News Avançar para o conteúdo principal

A carga perdida e a festa de casamento (VI)

A história da carga perdida e o desassossego na boda


(Sexto episódio)

A burrica da tia Alice foi assim incumbida de ajudar os três moçoilos, após a infeliz ideia destes terem esvaziado a botelha do vinho tratado, provocando-lhes tamanho incómodo que julgaram nunca poder acontecer-lhes, de tal modo era docinha a pomada e tão bem escorregava goela abaixo.
A burrica, acostumada com a tia Alice a palmilhar o caminho, que dava depois de algumas ramificações para os pontos principais da aldeia, sempre com o máximo de sacos de farinha bem apertados ao lombo, desembaraçava-se por ali acima com firmeza e numa passada que os rapazelhos dificilmente acompanhavam, pois a carga era desta vez muito mais leve. Valendo-se a burrica do fraco peso do rapazinho combalido, meneando as ancas, afocinhava de vez em quando para manter o equilíbrio e dar força às patas dianteiras. Determinada, trepava tão rapidamente aquele chão irregular de pedras soltas que os dois, com passadas desgovernadas, lutavam incessantemente para se manterem à frente da burra, vociferando e, naturalmente, dizendo mal das suas vidas e da aventura em que, em má hora, se tinham metido.

Com tais securas por causa do generoso como nunca tinham experimentado, e cansados da ligeireza com que o animal os obrigou a percorrer o caminho de volta, eis que chegam finalmente à festa do casório, onde os convidados agora já não bailavam, mas sim, alguns de pé a conversar e outros à volta das mesas iam aqui e ali depenicando.
Lançando de si três valentes zurros, percebeu a burra que tinham chegado ao destino, e parou junto à cancela do quintal onde a festa terminava, enquanto os condutores do animalzinho respiravam fundo, exaustos. De repente, todos que por ali queimavam os últimos cartuxos apressaram-se a abrir a cancela, de mãos nas cabeças, ares de aflição, nós de gravatas desfeitos e camisas desapertadas quase até à barriga! Incrédulos os dois rapazelhos no meio de tanta azia e confusos em virtude do ocorrido estavam longe de entender a razão de tantas aflições. Simplesmente olhavam espantados aquelas pessoas, sobretudo os seus familiares, sem terem tempo ainda de olhar o dorso da burrica e o companheiro lá estendido que deveriam ajudar a desmontar.
Como foi possível? Tanta baralhada sentiram os meninos naqueles momentos que arregalaram com esforço os olhos e convenceram-se que a burra tinha perdido a carga!

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