O Carnaval na minha infância por João de Deus Rodrigues (memórias) Foi antanho, é passado, Mas a memória devolve tudo: Uma mulher, a roca, o linho fiado, Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo! Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada. Uma pedra que sai da mão, E a cabeça rachada, ao carpinteiro João. Uma mulher, as estopas a arder, A ousadia, o drama, a agressão. Porque os homens da aldeia faziam tudo, Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo, Para manter viva a tradição. Enquanto na cozinha, à luz da candeia, Quatro gerações junto à lareira, Festejavam o carnaval, sem máscaras, Essas coisas do demónio tentador, Porque só eram permitidas brincadeiras, De deitar farinha na cabeça, E contar “estórias”, não muito brejeiras… E toda aquela boa gente, De cara descoberta, alegre e contente, Passava a noite de carnaval, Com uma estridente gargalhada, Até ao clarear da madrugada... Era assim o Carnaval na minha infância, Em casa dos meus avós materno