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Linhos de Agarez

Artesanato: linhos de Agarez, Vila Real Tear Em tempos idos, uma boa parte das famílias e casas de lavradores da região tinham à sua disposição teares, essas máquinas interessantíssimas para tecer, naturalmente mais ou menos complexas de acordo com as posses financeiras, pois um tear era construído com sabedoria e habilidade, tarefa só ao alcance de alguns. O tear da foto não é um desses a que me refiro. É um tear de mesa, de dimensões mais reduzidas que os de Agarez, contudo, semelhante na complexidade, servindo igualmente para tecer peças mais pequenas. Encontra-se atualmente no ArteAzul’Atelier, em Vila Real, para aprimoramento da sua estrutura, com objetivos de investigação da arte de tecer e, eventualmente, realização de algumas obras. Linho Outros teares, ou pelo menos vestígios estarão ainda na posse de algumas famílias, em certas aldeias, como em Agarez, a mais representativa, mas também Mondrões e Couto de Adoufe, entre outras no concelho de Vila Real, onde algumas artesãs con

Olaria negra de Bisalhães

A olaria de Bisalhães é um dos ex-libris de Vila Real Olaria negra de Bisalhães A olaria de Bisalhães é um dos ex-libris de Vila Real, pela sua tradição secular que se prolonga até aos nossos dias.  O barro é picado até se desfazer em pó. As impurezas são removidas e a mistura com a água cria a matéria-prima. Em seguida, o oleiro dá-lhe forma na roda e, antes que a peça seque, desenham-se nela flores e outros ornatos. A cozedura faz-se num forno aberto no chão. Colocadas as peças, cobrem-se com rama de pinheiro verde, a que se ateia o fogo. O forno é abafado com caruma, musgo e terra, para que se não libertem fumos e seja obtida a cor negra característica.  Recomenda-se uma visita à aldeia, local onde um ou outro oleiro trabalha e se localizam os fornos, e aos postos de venda na Avenida da Noruega, em Vila Real, à saída para a autoestrada Porto-Bragança.

As sardinheiras da Torre de Dona Chama

Torre de Dona Chama, concelho de Mirandela Jorge Lage Torre de Dona Chama, Mirandela As sardinheiras eram um grupo de pessoas pobres que, num Portugal rural e com muito pouca mão-de-obra assalariada, tentava conseguir o sustento para a sua casa e fintar a morte pela fome. Contudo, as lavradeiras pequenas e remediadas ao verem-lhe fazer negócio, lançavam para o ar o dito: «a sardinheira vende sardinha e come galinha». Inicio esta memória deste comércio móvel rural pela Torre de Dona Chama por ter conseguido os dados com facilidade. Ao arrolar a enumeração dos que se dedicavam à venda da sardinha cabeçuda, da escochuda ou escochada (sem cabeça) e do chicharro, à volta dos anos cinquenta, temos um rol de sardinheiras e sardinheiros: a Tia Lucília, o Ti Carlos Costa Polimenta, a Tia Maria Gucha, a Tia Marquinhas Guerra, o Ti Tavares e a Ti Maria Calhelhos.

Malhada

Dia da Malhada, no Barroso "Tornar o dia" Tourém, Montalegre A malhada consistia em bater com o malho para debulhar, nas eiras, os cereais. O sistema utilizado nas malhadas era o de "tornar o dia", ou seja, pagava-se o trabalho retribuindo com a participação na malhada de quem tinha ajudado. Assim, não se pagava a jeira aos trabalhadores. O dono do cereal que era malhado na eira oferecia aos trabalhadores comida e bebida constantes, abundantes e da melhor qualidade. Ao barrê la eira o binho num bem Se num bem o binho Num barre ninguém. No entanto, Tourém (freguesia do concelho de Montalegre) é uma exceção a este costume: neste dia não se usava dar a comida aos trabalhadores; cada um ia comer a sua casa. Informação recolhida no Ecomuseu de Barroso, em Montalegre

Responso a Santa Bárbara

Responso a Santa Bárbara, contra as trovoadas enviado por Jorge Lage Santa Bárbara Bendita se vestiu e se calçou suas santas mãos lavou Jesus Cristo encontrou e o Senhor perguntou: - onde vais Bárbara? - Senhor, eu ao Céu vou. - Vai, Barbarinha, vai manda esta trovoada para onde não haja pão nem vinho, nem bafo de menino pequenino. Onde só haja uma serpente sem nada que lhe dar senão aguinha da fonte e areias do mar. Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, um Padre Nosso e uma ave Maria. (Barroso da Fonte in «55 Orações Marianas» - 2013, de Manuela Morais) Nota: Numa má hora da tormenta podia ir toda a colheita. Santa Bárbara (Oração)

Cantaria e perpianho

A arte da cantaria e do perpianho por Jorge Lage Os canteiros de Abadim - Terras de Basto A arte da cantaria e do perpianho Há muito tempo me encantei pelos poemas, recordações e escritos do amigo Abílio Bastos, carpinteiro de profissão, de grande carácter. Emigrante de sucesso e artista da madeira na América. Por isso convenci-o, contra a sua vontade, a ir-me passando algumas memórias escritas. Assim, partilho mais um «poema inédito» de 1963 e que nos fala da arte da pedra dos canteiros. Mais, este curto apontamento etnográfico, da dura e artística labuta da pedra, aparecendo a quadra abaixo como forma de aliviar o esforço titânico dos pedreiros, fazendo, com ajuda de roldana, içar as cantarias trabalhadas para as paredes das casas. Em 1960, os artistas de Abadim (sob a orientação do mestre) reconstruíram a Igreja de S. Nicolau, ordenada pelo grande abade

Desouriçadores

Desouriçadores de Castanha Desouriçadores de castanha Nas suas pesquisas pelos caminhos da etnografia, Jorge Lage, escritor enraizado na cultura popular, persistente na busca e na preservação da verdade dos costumes antigos, muito especialmente da sua região - Trás-os-Montes -, especialista na temática que envolve a castanha e o castanheiro, oferece, através dos seus escritos e dos seus livros, muito da história antepassada das gentes transmontanas. Jorge Lage, contribuidor assíduo deste blogue - o NetBila -, enviou-nos desta vez uma foto por si obtida no Museu Etnográfico de Aldeia do Bispo - Guarda - “Museu da Castanha". Esta imagem faz-nos lembrar que não é fácil extrair, apenas com as mãos, as castanhas dos ouriços - invólucros espinhosos onde se desenvolve o fruto do castanheiro. Assim, os antigos, para esse efeito utilizavam instrumentos adequados - os desouriçadores de castanha.

O Sebastião Dino

O Sebastião Dino por José Ribeiro Vale do rio Pequeno, em Cabeda - Vilar de Maçada, encosta onde se situam as melhores quintas da povoação A veia versejadora do Sebastião Dino O Sebastião Dino foi um dos personagens mais castiços da Vilar de Maçada do meu tempo. A par do Simão da Eusébia e de mais uns poucos. Que são relativamente raras estas figuras cheias de carisma, riquíssimas de profunda filosofia sobre o mundo, sobre a vida e sobre o carácter das pessoas nas suas lucubrações aparentemente desconexas, inspiradas muitas vezes por um copito a mais… Muitíssimas histórias cheias de humor, de sarcasmo ou de peripécias várias, ainda hoje se contam destes figurões, histórias essas que vão passando de geração em geração. E conta-se como sua a conhecida anedota do Mártir São Sebastião e da última e fatal seta que lhe feriu o coração, desabafo esse que transcrevo uma versão menos vernácula: «pois foi essa mesma que o «cozeu…» Outra faceta talv

Douro: carrego atribulado

Um carrego atribulado do carreiro Benedito por José Ribeiro Estávamos em meados dos anos cinquenta e seguia o seu caminho normal de Vilar de Maçada para o Pinhão pela estrada de Sabrosa com uma pipa de vinho tratado para uma casa inglesa o carreiro Benedito e os seus dois ajudantes, os três já bem «tratados» também com umas pinguinhas surripiadas à dita pipa.  Era relativamente fácil matar a sede num néctar tão tentador como era uma pipa de quinhentos litros de vinho fino, ali à mão, transportada na solidão de um caminho e na pachorrenta chiadeira de um carro de bois… Com um pequeno escopro e umas pancadinhas laterais aliviava-se um bocadinho um dos aros, uma verruma fina fazia o furinho no espaço entre aduelas por onde uma palhinha seria o biberão para tal deleite! Com um bocadinho de sebo no furo e re-apertado o aro da pipa, ficava tudo como à saída do armazém.  Mas aquele carrego, nessa tarde escaldante de verão pela estrada de Sabrosa,

A história da «Casa da Máquina»

A casa da máquina de meu avô Zeferino por José Ribeiro Ruínas da Casa da Máquina, em Vilar de Maçada A história da «Casa da Máquina», como era conhecida uma destilaria de aguardentes vínicas fundada por meu avô materno Zeferino Alves Rodrigues, começa em Parada do Pinhão, no vizinho concelho de Sabrosa, donde meu avô era natural, sendo seu pai e meu bisavô, Rodrigo Rodrigues Alves, Juiz de Paz e correligionário de António Teixeira de Sousa de Celeirós, casado em Sanfins, último Primeiro Ministro da monarquia com D. Manuel II.  O meu avô, por volta de 1910 mudou-se com a família toda para a vizinha povoação de Vilar de Maçada (a minha mãe e meus tios e tias eram tão crianças que sempre se consideraram vilarmaçadenses, tendo já aqui nascido os dois mais novos, César e Cassilda). Essa curta «emigração» que iria ditar o destino da nossa família deveu-se a uma razão muito pragmática: A freguesia de Parada do Pinhão está fora da Região Demarcada do Al

O casamento trinta anos adiado

O casamento trinta anos adiado por José Ribeiro Capela de Cabeda O casamento trinta anos adiado da Maria da Fonte com o Herculano do Côto Esta Maria da Fonte nada tinha a ver com a heroína do Alto Minho do tempo da Patuleia. Mas foi também a heroína de uma comovente história de amor passada ao longo da segunda metade do século passado. A Maria da Fonte era uma bela mulher de Cabeda. Ainda a conheci muito bem, já mulher madura. Foi sempre uma bonita mulher, elegante, aloirada e de porte senhorial, apesar da dureza da vida de aldeia, no ganha pão do dia a dia. Tanto mais com quatro filhos para criar, filhos do seu amado Herculano Ribeiro, mais conhecido por Herculano «do Côto», nome de um bairro da aldeia, bairro de bons artífices e de exímios caçadores. Tempos desgraçados aqueles! Jornas de cinco mil réis, mal davam para a brôa que daria um bocado de «sustância» ao caldinho da ceia... E o Herculano, a certa altura, mais precisamente no ano da graça de 1947, resolveu botar-se a emigrar

O ritmo agrícola

Calendário dos trabalhos agrícolas Da revista "Trás-os-Montes", em determinado tempo, retirámos ensinamentos simples que convém recordar ou mesmo aprender sobre as alturas mais convenientes do ano para a realização dos principais trabalhos agrícolas. As estrelas e luas do céu marcam o ritmo das atividades agrícolas em Trás-os-Montes.  De dezembro a janeiro, apanha-se a azeitona.  De janeiro a março, lavra-se a terra. Depois, a seguir à lavra da terra, são os trabalhos da horta, da vinha, do olival e da sementeira das batatas. De maio a junho, cortam-se os fenos e as malhadas fazem-se até agosto.  Em setembro, fazem-se as vindimas.  De outubro a novembro, semeia-se o centeio. Dados recolhidos da revista "Trás-os-Montes"

Padre Fontes

Padre Fontes enviado por Eugénio Mendes Pinto Romance de uma vida (excerto) Montalegre Ando bem disposto, apesar do mau tempo que se tem feito sentir pelas bandas do Barroso. Hoje, o Sol abriu o cinzento e foi possível ver o azul do mar no céu. Não quero transformar o texto em poesia. Tudo quero simples como a minha simplicidade. Levantei-me cedo, pois este silencioso aroma da manhã obrigou-me a deixar os lençóis. Mas ando com azia. Penso que é do vinho doce que uns amigos me trouxeram do Porto. Delicioso esse mel. Não resisto àquele sabor da cor do sangue de Cristo, sem fermentações. Divino. É nestas pequenas coisas que Deus existe. Julgo que não estou a dizer nenhuma atrocidade. Deus está nas pequenas coisas, nos momentos que ficam para a eternidade, na beleza, na harmonia. Mas deixemos Deus repousar no dia que amanhece. Levantei-me, estive a escrever uns pequenos textos, celebrei missa e, como sempre, vim para a câmara. Durante a viagem de Vilar de Perdizes para Montalegre atravesso

Arinto / Pedernã (Branca)

Vinhos: grandes castas portuguesas Arinto / Pedernã (Branca) Para quem gosta de Riesling (seco), Pinot Blanc ou Chenin Blanc (seco). Uma das castas autóctones mais antigas de Portugal, com uma longa tradição na região de Bucelas, a casta Arinto espalhou-se entretanto para a maioria das regiões do vinho, devido à sua capacidade de adaptação a diferentes terrenos e climas. Arinto, conhecida como Pedernã na região do Vinho Verde, tem na sua acidez fresca uma das suas principais características, combinadas com uma mineralidade distintiva, excelente estrutura e um toque aveludado. O seu aroma é relativamente discreto com notas de maçã verde e limão. A casta Arinto produz vinhos que evoluem muito bem em garrafa, ganhando elegância e complexidade, e envelhecem muito bem para surpresa de muitos. Harmonização com a casta Arinto: A casta Arinto é uma descoberta incrível, como uva de vinho branco, e que é muito feliz na mesa. A sua acidez jovem e c

Bento da Cruz

O ideal de felicidade de Bento da Cruz por Barroso da Fonte Quero «viver apaixonadamente e morrer a tempo» foi o ideal de felicidade de Bento da Cruz Convivi com Bento da Cruz na Barragem de Pisões na década de sessenta. Em 30 de Junho de 1962 abandonei o Seminário de Vila Real. E, nos primeiros dias de Julho seguinte, fui ali pedir emprego, recorrendo ao Senhor José Cruz que tinha sido primeiro sargento militar e que vivia maritalmente com minha prima, Maria do Carmo, professora do ensino primário. O seu Pai era conhecido pelo «Tio Vicente Terré», de Codeçoso que casara para Gralhós, onde a filha nasceu. Curiosamente veio a ser a professora que preparou para a quarta classe o atual Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes, António Chaves, que curiosamente foi o maior confidente e biógrafo de Bento da Cruz.  O inspetor José Dias Baptista que foi meu condiscípulo de Seminário em Vila Real, desde o primeiro ano