Ceia abençoada: reviver de memórias e tradições por Jorge Lage Foi num dos primeiros anos da segunda metade da década de setenta e, apesar das más estradas nacionais, todos os anos, na época natalícia, voltava à casa paterna. A candeia a petróleo já tinha sido posta na pilheira, de adorno, a palha tinha deixado o piso das ruas, e embora a minha alma continuasse a aspirar o calor e o aconchego da casa paterna e o crepitar do lume na lareira me embebedasse a memória da meninice, as panelas (potes de ferro e de três pés) ao lume eram as mesmas e os bancos mochos quase paravam o tempo. Depois de um dia de viagem e vencidas as curvas das montanhas do Alvão e da Padrela o que vinha mesmo a calhar era a ceia em família. A minha mãe costumava dizer que se comia o que a casa dava. E a casa dava para as noites de inverno um grande esqueiro de lenha para aquecer tudo e todos, o pão do forno, as batatas, com as couves tronchudas e o azeite cheiroso até à medula dos ossos. Esquecia-me do fumeiro, d