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Pão (2)

Coma um carolo de bom pão!


Jorge Lage, escritor e investigador das culturas regionais, nomeadamente da região onde nasceu – Trás-os-Montes – tem sido um prestimoso contribuidor deste blogue e dos mais antigos. Ao longo de muitos anos de trabalho de pesquisa e observação atenta aos variadíssimos costumes e falas que caracterizam as aldeias e gentes transmontanas, Jorge Lage tudo tem feito para, através da escrita, deixar às transmontanas e transmontanos e às gerações vindouras esse conhecimento valiosíssimo da cultura do povo de Trás-os-Montes que, por diversas razões, se vai desvirtuando, correndo o risco de afastar-se da matriz que a retrata.
Jorge Lage, apreciador da simplicidade transmontana, não orienta as suas investigações por princípios de modernidade, não sendo a ela avesso, contudo. Prefere a autenticidade, e nela se concentra quando visita uma vila ou aldeia, ou quando fala com as pessoas e o modo como se lhes dirige, também verdadeiro, não fosse ele um transmontano de se lhe tirar o chapéu!
A forma de pesquisar e aprofundar as raízes culturais de Trás-os-Montes, só um transmontano como Jorge Lage consegue levar a efeito com realismo, pois utiliza a linguagem das pessoas mais antigas, sabendo perguntar, porque conhece os linguajares e vive-os, desde a sua infância, na aldeia de Chelas, concelho de Mirandela.
Em setembro de 2010, publiquei um dos seus artigos sobre o pão, de que republiquei já um pequeno excerto que bem reflete a sua pessoa – simples, autêntica, frontal. Aqui deixo mais uma parte desse artigo.
TóFernando Vilela


“Há dois tipos de pão: o «lêvado» e o ázimo (de que já fala a Bíblia). Pode-se hoje adicionar o «pão plástico» cheio de corantes e conservantes e outros aditivos de mata-cavalos.
Aliás, a fermentação é a base do segredo do pão, a par da cozedura em forno de lenha. A massa leva a levedar (fermentar) entre quatro a oito horas. O «furmento» (massa lêbeda) guardava-se num tacho coberto para a fornada seguinte.
O mais saudável é o pão de mistura (farinha e farelo), tomando, no caso do pão de farinha triga, o nome de «pão-charrão» (com mais farelo) e sêmea (com menos) e se for centeio chama-se pão-integral ou pão-escuro. Mas, há no mercado pão escuro, de farinhas refinadas, que nada tem a ver com o pão integral. Os corantes são outras «saloiadas» para enganar parolos, mas não deixa de ser «pão plástico», sem a qualidade do pão tradicional.
Para combater o elevado preço do pão, têm surgido pequenas máquinas domésticas que cozem pão e até se pode programar a hora da cozedura.
A Organização Mundial de Saúde sugere o consumo de cinquenta quilos (os marroquinos comem 100 kg) de pão por ano e por pessoa, uma média diária de 135 gramas.
Coma um carolo de bom pão! Procure o pão tradicional nas melhores padarias.”
Jorge Lage

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