O largo onde a vida de S. Lourenço se concentrava
S. Lourenço, já aqui demos conta, é uma aldeia do concelho de Sabrosa, de habitações dispersas. Pequenos lugares distanciados uns dos outros e aglomerados de casas implantados em pontos determinados fazem esta linda povoação – S. Lourenço de Ribapinhão.
Nas décadas de 1960 e 1970, épocas especiais e memoráveis, a vida no centro da aldeia, concretamente no largo do sr. Albertim, onde existia a mercearia mais importante e mais bem recheada das redondezas, era preenchida pelos laurentinos e habitantes de outras paragens com uma dinâmica peculiar. Poderá dizer-se que, para além da Igreja e do Arrabalde, muita da atividade importante em S. Lourenço tinha lugar naquele largo e na estrada mesmo em frente.
Assim, refiram-se alguns exemplos de acontecimentos de diversão e outros de uma certa e singela atividade económica, independentemente dos negócios e serviços públicos que naquele estabelecimento comercial se implementavam e prestavam:
Assim, refiram-se alguns exemplos de acontecimentos de diversão e outros de uma certa e singela atividade económica, independentemente dos negócios e serviços públicos que naquele estabelecimento comercial se implementavam e prestavam:
Desde logo, era ali que funcionavam os serviços de correio que, pela manhã bem cedo, era transportado em primeira etapa pela carreira da empresa Taboada e, à tardinha, já escuro na altura do inverno, era recebido em saco devidamente fechado, à chave, aberto pelo sr. Albertim. Preparadas e organizadas as cartas, os endereços eram lidos em voz alta e a correspondência entregue aos seus destinatários que, no caso da sua ausência, era guardada e entregue quando fosse procurada. Registos, envio e receção de telegramas, venda de selos e outros serviços relacionados eram ali realizados pelo sr. Albertim.
Todos os dias úteis, enquanto se esperava pelo correio, os adolescentes entretinham-se em variadas brincadeiras, normalmente correrias como era o caso do jogo designado por “Iritores” ou “Diretores”, sem que ninguém soubesse a razão daqueles nomes. O que se conhecia, isso sim, eram as regras que basicamente consistiam na divisão de um grupo em duas equipas. Uma ficava junto à “malha”, ponto importante para a finalidade do jogo que deveria ser devidamente guardada. Como previamente destinado, a outra equipa partia, às vezes para bem longe, de modo a esconder-se nos sítios mais recônditos e escuros, tentando os seus elementos escapar-se quando algum ou alguns adversários apareciam no seu encalço. Por diversas vezes, era tão demorado o jogo e tão longas as correrias que tudo terminava já o correio tinha sido distribuído, e por ali restavam apenas alguns adultos preparados já para jogar uma “suecada”, quer no estabelecimento do sr. Albertim, quer no do sr. Ernesto, ali vizinho. Quantas vezes esses “suequeiros”, pessoas evidentemente respeitáveis que apenas queriam divertir-se e beber um ou “dois” copos, eram surpreendidos pelo grito:
“Olha a Guarda!”
Mal se ouvia o alerta da presença próxima da GNR, sigla que os mais reguilas traduziam por “Grande Navio Roubado”, “Gramas e Não Refilas” ou “Grande Ninhada de Ratos”, os da sueca escapuliam-se rapidamente como podiam, um para cada lado, deixando bancos e copos tombados, manchas de vinho em escorregadelas precipitadas e sucessivas, envoltos em pura adrenalina, mas ao mesmo tempo quase sufocados de tanto rirem, pois normalmente conseguiam dar a volta aos guardas, coitados, a cumprirem o seu papel, vindos nas suas bicicletas dos lados de Sabrosa que deixavam entretanto na valeta, entre a Choupana e o largo, fazendo em passo de corrida silencioso os últimos metros, na tentativa de surpreenderem os jogadores da “sueca”, encontrando vazios os espaços do vício!
O largo do sr. Albertim (II)
O largo do sr. Albertim (II)
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