Monte Farinha, Mondim de Basto
Por Costa PereiraPublicação recuperada do NetBila, de 15 julho 2011
Mondim de Basto
Monte muito alto sobre os outros desacompanhado de todas as partesSó por ignorância da realidade histórica e geográfica da região montanhosa que dos Padrões da Teixeira se prolonga pela cumeada até ao alto do Minheu, poderá haver alguém que negue ou ponha em dúvida a soberania do Marão em todo esse espaço que pela cumeeira mede umas boas cinco léguas de serrania. O facto de as populações locais terem baptizado sítios e lugares desta serra transmontana com topónimos, como: alto de Espinho (Amarante), alto do Velão (Vila Real), serra do Ermelo (Mondim de Basto), serra de Lamas-de-Olo (Vila Real), serra d' Ordens (Ribeira de Pena), Alvão e Minheu (Vila Pouca de Aguiar), em nada invalida o princípio da soberania, nem da identidade maronense que por vezes alguns regionalistas caseiros parecem querer defender. Nisto e no referente ao Alvão, Sant'Anna Dionísio é bem claro:
- "Serra do Alvão. O maciço montanhoso conhecido por vezes por este nome não se deve considerar senão um prolongamento da Serra do Marão, pois na realidade, como já foi acentuado, entre os dois não existe, em rigor, nem uma separação de natureza hipsométrica, nem geológica".
Também a Camilo que muito bem conheceu a Serra em toda a sua extensão nunca passou pela cabeça localizar a Anta, Ermelo, Vila Real ou, mesmo, a Samardã fora do contexto maronês.
Tenho pois razão de sobra para me considerar maronense de Basto e comigo incluir os vales e outeiros que adornam este canteiro de beleza natural que tem no Monte Farinha, nas "Fisgas" e num pedaço do Tâmega, os principais pólos de atracção.
Mas deixemos que os curiosos venham confirmar in loco aquilo que não oferece dificuldade entender, enquanto que para os mais exigentes entendemos por bem, fazer-lhes oferenda dum esboço monográfico sobre o muito divulgado, todavia pouco historiado, "Iteiro da Senhora" ou do Santinho (São Tiago).
A primeira ou pelo menos a mais segura referência a este imponente aspecto paisagístico aparece em 1258, nas Inquirições do Conde de Bolonha, do "Judicatum de Ceroliquo, quantu iacet inter tamegam et dorium in Ferrarias". E já então, como se pode constatar (por depoiamento de Johanes plagii de villar de ferreyros), espaço desta vetusta paróquia:" et dixit quod scit quod ferraryas que sunt Regis dividunt per montem de farina et de inde ad alium montem de farina minorem et deinde quomodo vertit aqua per portelam de Asteandj". ( Ver Doc.I)
No século XVI é João de Barros quem, na sua "Geografia D'Entre Douro e Minho", descreve: "monte muito alto sobre os outros desacompanhado de todas as partes, assi como monte de trigo ao qual chamão monte Farnha que se vê de muito longe" . Ainda do mesmo autor, descobriu o Dr. Primo Pelayo, um manuscrito na Biblioteca da Ajuda que contém mais a seguinte achega: "monte a que chamão monte Farinha que tem uma legoa d'alto e no cimo há muralhas antigas".
Com a sua majestosa e impressionante forma cónica a elevar-se aos quase mil metros (973m) de altitude, o Monte Farinha não é mais que a proa duma curiosa cordilheira granítica que de oriente para Ocidente vem em linha recta do visinho Campo do Seixo (numa extensão apróximada a uns 5 km, em harmoniosa sucessão de pequenas portelas entre picos, impor a sua identidade e originalidade no contexto orográfico das terras maronesas de Ribatâmega ou de Santa Senhorinha de Basto.
Quanto ao povoamento no/ou à volta do pico, remonta a muitos séculos afastados de nós, e ao que se crê efectivo, pese actualmente só existir 1 fogo (a casa do Ermitão) quase sempre habitado.
A "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira" pode ajudar aqui a uma melhor compreensão do articulado: "Monte Farinha, ao norte de Vilar Ferreiros, e coroado pela Capela de Nossa Senhora da Graça. Montes Palhaços - termo local para designar alguns outeiros e prainas da cordilheira -, a nordeste. São notáveis estes montes porque neles se vêem largos cordões de pedra em montão, ruínas de muros antiquíssimos, que a tradição local diz serem obra de Mouros. Trata-se, pois de castros, a que a topografia se prestava notavelmente".
Montanha Sagrada é o que devemos chamar a este gigantesco bloco orográfico, que antes de ser cristianizado foi citânia (quem nos diz que não, a de Valério Máximo? O Dr. Primo Pelayo foi o primeiro a colocar essa hipótese e outros já o secundaram), atalaia e altar de culto pagão dos primitivos habitantes das terras que formam hoje muito do concelho de Mondim de Basto. (...)
Quanto ao Padroeiro inicial tudo indica que tenha sido São Veríssimo, tanto assim que em meados do Séc.XVIII ainda o Monte farinha era muitas vezes designado por "Monte de São Veríssimo".
Mas para além do culto a São Veríssimo e a Nossa Senhora, também a São Tiago, no seu dia... e tudo ruma, romeiros e peregrinos à também denominada "Pirâmide Verde" de Basto.
(...)
in Vilar de Ferreiros na história, no espaço e na etnografia
de Costa Pereira
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