Burros contemplativos
Ao contrário da porca, facilmente desenhada com meia dúzia de letras, o burro, ou burra, é muito mais difícil traçá-lo, utilizando o mesmo método.
Burros à janela e a velha dos panelos
Do meu ponto de vista, esta é uma estória pouco interessante, mas não deixa de suscitar alguma curiosidade, pois “os burros à janela” e “a velha dos panelos” são duas realidades independentes uma da outra, não tendo, por isso, qualquer ligação. São simplesmente dois factos muito simples, que se interligam por mera casualidade.
A rapariga de 12 anos que referi em estória anterior “A porca parideira”, essa rapariga, agora com 86 anos de idade, falou-me de uma figura muito conhecida em S. Lourenço, e também de outras aldeias da região. Essa figura era “a velha dos panelos” que pelos anos 40/50 do século passado vinha com o seu burro da aldeia de Bisalhães ou dali perto, na freguesia de Mondrões, com uma série de peças em louça de barro preto, que vendia porta a porta.
Além da louça de barro, e pelas casas por onde a velha dos panelos passava ou mesmo pernoitava, ela trazia também uma ou outra estória, mais ou menos verdadeira ou fantasiada. Minha avó materna, em S. Lourenço, na rua do Concieiro onde habitava, deu-lhe guarida em casa por diversas vezes, e ao seu burrico num lameiro próximo onde este se alimentava, dormia, e, olhando sobranceiro ao muro que circundava o terreno, contemplava os transeuntes que naquele tempo circulavam em bom número na rua do Concieiro.
A este propósito – do burro contemplativo –, relatou-me a mesma rapariga de 86 anos o que uma vizinha da cidade onde atualmente vivem lhe contara.
Periodicamente, essa senhora desloca-se ao hospital para fazer o controle do fluxo sanguíneo.
No prédio construído ainda há poucos anos, logo a seguir à praça grande por onde passa o autocarro que a leva ao hospital, afirma ela ter já visto entrar numa das portas desse prédio, não apenas cães, coisa normal hoje em dia, mas também burros.
Claro que a rapariga, pela experiência de 86 anos, não deixou de pensar que a vizinha teria alguma aceleração nalguma parte do sangue, resultando assim num qualquer descontrole e visões como esta de burros a entrar no prédio. Ou então seria alguma brincadeira ou anedota que a vizinha, geralmente bem-disposta, quereria expressar.
A coisa passou e caiu, de certo modo, no esquecimento, até que um dia destes, a rapariga de que vos falo, também ela necessitou de se dirigir ao hospital. E não é que ao passar de autocarro, viu um burro no tal prédio, numa das janelas do rés-do-chão?
Comentários
Enviar um comentário
Faça o seu comentário ou sugestão...