Curiosidade: o desenho de uma porca
Certamente, será mais que conhecida a forma de desenhar um porco, ou porca, com traços simples e formas ingénuas, com meia dúzia de letras colocadas estrategicamente e ligadas posteriormente.
Na Escola Primária ou início da Secundária, assim se brincava com o Desenho.
A porca parideira
São oitenta e seis anos de idade, com muitas memórias sobre S. Lourenço, daquelas que saem como as cerejas, pezinhos entrelaçados uns aos outros sem parar, com passagens, algumas delas sucedidas em outros lugares, mesmo em cidades dos arredores.
Sendo habituais nestes momentos de boa convivência, as interferências nas conversas, desde que a propósito, vêm sempre a calhar, completando descrições e factos ocorridos, descobrindo-se mudas personagens, ou mesmo protagonistas, com sucessivas aberturas de parêntesis onde encaixam estórias e mais estórias.
São tantas que apenas algumas ficam gravadas, e dessas umas ou outras causadoras de inspiração.
A porca parideira, de um corpanzil enorme, deixava antever que mais de meia dúzia de leitões dali nasceriam.
– Oxalá venham saudáveis e robustos – dizia a dona da casa à sua filha mais nova. Doze anos de idade, espontânea a rapariga e arisca, já espevitada na palavra e lesta para o negócio, disse à mãe que trataria dos leitõezinhos se um deles passasse a pertencer-lhe.
E a porca pariu, após 24 horas, já sol-posto, e, como se adivinhava, durante metade da noite, quase sem tugir nem mugir, deu à luz 9 porquinhos, bem gordinhos e luzidios. Distinguia-se um deles de todos os outros irmãos, pela mancha preta a envolver-lhe o pequeno focinho.
– É este minha mãe! É este que eu quero como pertença.
Nos dias seguintes, aqueles nove, quase secaram a desgraçada da porca.
– Está na altura de lhes dar uns bons caldos, misturando-lhes um pouco de leite das nossas ovelhas e cabras. Vai, rapariga inquieta, é hora de cumprires o prometido. Vai e não te distraias com conversas.
E não se distraiu, não. Cada vez que o caldinho era levado, o primeiro a comer e a satisfazer-se por completo, era o do focinho preto, que medrava a olhos vistos, perante a admiração da mãe que, entretanto, ia puxando pela filha, sem que esta deixasse descoser-se.
Ganhou uma boa maquia, a rapariga, quando, com o auxílio do pai, conseguiu vender o porco já crescido.
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