Os NarrosNetBila'News Avançar para o conteúdo principal

Os Narros

Quem são os Narros?
por Jorge Lage

Mirandelês

Pela proximidade de uma localidade os vizinhos tendem sempre a arcar ou a ser confundidos, pelos que estão de fora.
Em Valência ao ouvirem-me falar, disseram-me que eu era Galego. Até sou de perto e até o meu amigo José Posada, grande referência na indústria da castanha, dizia que eu era «Galego do Sul». No Litoral Centro chegam a dizer-nos que somos Espanhóis, pelo simples facto de ficarmos perto da fronteira. 
Também a família mesmo que afastada acaba toda por «herdar» a mesma alcunha ou o epíteto. Mesmo que se queira negar, aparece logo quem diga: - É rescendido de…
Vem isto a propósito de quem são os «Narros» ou mais depreciativamente os «Nharros»?
Depois de muita consulta, investigação e pesquisa para o livro «Mirandelês», chegámos à conclusão que, em tempos recuados, os «Narros» seriam os humildes artesãos de metais dos subúrbios do casco velho de Bragança, hoje bem integrados na cidade.
O Dicionário de Espanhol-Português refere «narria» como uma mulher gorda (geralmente os narros, tinham as mulheres abonadas, porque o trabalho delas era mínimo, comparado com as camponesas).
Narros são os vizinhos de Bragança que habitam os povoados de «Narros de Mantalayegua» e do «Camino de Narros a Sancogomez» de Zamora. Relativamente perto dos brigantinos (bem mais perto do que de Mirandela ou Vila Real) fica «Carretera de Narros a Solana» de Solana de Ávila. Há o «Paseo de San Juan de Narros» – Soria e «Carretera de Narros a Suellacabras» – Soria.
Pensamos que a cor negra ou escura da pele devido à origem, acrescido da profissão que os trazia escuros com a fuligem e a falta de hábitos de higiene tenha ditado esta alcunha de alguns habitantes de Bragança. O maior dicionarista português do século XX, José Pedro Machado, no seu mais volumoso dicionário assim os definiu e que referenciamos na obra «Mirandelês».
Há ainda, dentro desta linha, na primeira metade do século XX, uma quantidade de latoeiros das cercanias de Bragança. Como profissão nómada desciam até à Terra Quente à procura de trabalho e sustento e voltavam à terra de origem. Estes latoeiros passavam, de tempos a tempos, na minha aldeia e consertavam as alfaias de lata, alumínio, cobre ou zinco, regressando à terra de origem.
É com fundamento o facto de o mesmo dicionarista no seu Grande Dicionário de Língua Portuguesa dizer que «narro» é o nome porque eram conhecidos os gatos e cães pretos e por arrastamento os homens de tez escura ou que andam enfarruscados, sendo os latoeiros (de Bragança) alguns dos quais quase não conheciam a água. A corroborar esta tese é a de que a água não era (e não é) em demasia no Sabor e quando a havia, estava de acesso mais difícil do que a do rio Tua na zona de Mirandela.
Outra versão, mais aligeirada, sustentada pelo meio estudantil bragançano, em meados do século passado, era de que o comboio narrou (parou) em Bragança e não seguiu mais para a frente, daí e as gentes da margem do Sabor acomodavam-se.
Quando havia água com abundância em Bragança esta estava muito fria e no tempo mais quente nunca foi em demasia. A constatação dos Narros espanhóis, por serem vizinhos e dos artesãos enfarruscados tudo tende para Bragança e não para «o Poço do Azeite».
Assim, no livro «Mirandelês», depois de algumas aturadas e prolongadas investigações refere-se que «Narros» é a alcunha das gentes de Bragança. E aqui, como o fizemos noutros locais do «Mirandelês», corrigimos o douto e ilustríssimo Abade de Baçal, que devia fundamentar ou explicar mais, pelo menos, quando se refere a Mirandela e seu termo. A alcunha dos bragançanos poderá ter chegado por vizinhança com os «Narros» espanhóis ou por míngua de água para lavar os rostos.
Junto ao Tua há água para dar e vender, fornecida pelo rio Tua e formado pelos rios Rabaçal e Tuela.
Hoje a alcunha é apenas cultural e de registo da memória. Ao referirmos as gentes de Bragança como «Narros», e os espanhóis, estamos apenas a preservar a cultura e a memória imaterial.
A animosidade dos bragançanos, a que depreciativamente os mirandelenses também lhes chamavam «Bragançuinos», por vezes, fazia-se sentir na discriminação dos exames escolares, por parte de alguns professores, acabando muitos examinandos de Mirandela por rumar a Chaves e a Vila Real.
Embora, cada vez mais ermo, Trás-os-Montes é uma aldeia rural onde todos precisamos de nos unir para melhor podermos reivindicar contra o ostracismo a que somos votados pelo poder central e pelo litoral.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Encontro com Delfim da Silva Monteiro, nas Paredes

Número de telefone para contactar o Sr. Delfim: 969179420 No lugar das Paredes, freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, o encontro espontâneo com Delfim da Silva Monteiro que, em tempos, me contou a lenda de Nossa Senhora das Candeias. Neste vídeo, em linguagem simples, muito expressiva, refere as curas que consegue a quem o procura, através da invocação de Nossa Senhora da Saúde!

Lenda da Nossa Senhora das Candeias

Paredes, freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão Numa bela noite, 2 de fevereiro, ia um caminheiro com os seus dois cavalos carregados, que ficaram atolados naquele histórico atoleiro. Era homem de boas ideias. Pediu à Senhora das Candeias, foi ouvido e Nossa Senhora apareceu com uma candeia na mão; alumiou-o e seus cavalos desenterrou, acompanhando-o à povoação (Paredes). - Está visto que o homem tinha bom coração; diz o contador desta história - Delfim da Silva Monteiro - natural e residente naquele lugar. Era uma noite rigorosa com muita chuva e neve que apanhou desprevenido o almocreve. Nossa Senhora a esse homem disse que nada dissesse, mas ele não pôde resistir ao que viu. Foi um Milagre!  Cheio de alegria no seu coração, logo transmitiu e espalhou pela povoação. Toda a gente correu para as fragas daquele lugar, hoje conhecidas por Fragas de Nossa Senhora das Candeias, lindo lugar, digno de se visitar! - Desde esse tempo, a Senhora das Candeias das Paredes foi sem

Quadras populares a S. Gonçalo de Amarante

Quadras populares a S. Gonçalo de Amarante in «Aveiro do Vouga ao Buçaco» Enviado por Jorge Lage (…) Foguetes em S. Gonçalo Há festa na beira-mar! As velhas cantam de galo… Nunca é tarde p’ra casar! (…) S. Gonçalo, meu Santinho, Como tu não há nenhum! Arranja-me um maridinho Para quebrar o jejum… (…) Meu santinho, desespero, Repara na minha idade! Por favor, eu também quero O que quer a mocidade (Amadeu de Sousa – poeta popular) (…) S. Gonçalo de Amarante, Casamenteiro das velhas, Por que não casais as novas? Que mal vos fizeram elas? (…) Hás-de saltar as fogueiras À noite no arraial, Dançar com velhas gaiteiras Uma dança divinal. (João Gaspar) Quadras populares a S. Gonçalo de Amarante in «Aveiro do Vouga ao Buçaco», de Amaro Neves e outros. As festas e romarias fazem parte das festas cíclicas anuais e são precisas para a alma do povo como de pão para a boca. O povo tem remédio para tudo na Bíblia e nas tradições e saberes orais. Há santos, rezas, mezinhas e produtos do campo para tod