Desfolhadas: espiga vermelha, "milho -rei"
por Costa Pereira
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Espigueiro |
As desfolhadas são a par das vindimas, das sementeiras, das malhadas e das ceifas uma das actividades que mais impacto e alegria despertam na população rural. Nesta participada tarefa, os intervenientes cantam, contam histórias e voluntariosamente dão a sua desinteressada colaboração, quando muito, apenas à espera de serem recompensados com uma "pinga" ou então pela ânsia de festejarem o aparecimento de uma espiga vermelha, "milho -rei" ou mesmo duma serapintada "rainha", acontecimento que não sendo rezado se celebra sempre com o tradicional abraço da pessoa que teve a dita de encontrar a espiga da sorte...
Precedida do corte e transporte das canas do milho para junto do improvisado desfolhadoiro, a desfolhada consiste em retirar as espigas do "cosco" ou folhelho, depositando-as em seguida nos cestos, que uma vez atulhados são despejados no palheiro ou no espigueiro, conforme instruções emanadas do anfitrião.
Entretanto os "atadores" vão juntando e ao mesmo tempo enfaixando a palha em pequenos molhos, que dias mais tarde serão acumulados ao redor de uma vara ou árvore apropriada, disposta na borda do cancho, da leira ou do lameiro, para dar origem às tradicionais medas ou "meroucas" de palha de milho, de centeio ou feno, que durante os meses de Outono e Inverno tanto caracterizam a paisagem campesina de Entre Douro e Minho, mormente a desta transmontana freguesia de Basto.
Esta palha destina-se à alimentação do gado vacum e vai sendo consumida durante a invernia consoante as necessidades. Depois de secas por acção do sol ou do vento, as espigas, como acontece com as do centeio, são transportadas para a eira, onde vão ser malhadas. Evento que tem por fim separar o grão do carolo, através do ritmado bater do malho manual. Após esta operação, o grão devidamente limpo e seco, dá agora entrada na caixa do cereal, donde por conta e medida, vai ser retirado ao longo do ano em sacos ou foles, com destino ao moinho, para ser ali transformado na farinha que há-de dar origem à tão apreciada broa misturada ou pão-milho das antigas casas do lavrador nortenho.
José Augusto Costa Pereira
in Vilar de Ferreiros na história, no espaço e na etnografia
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