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Adeus ó Valgouvinhas

Adeus ó Valgouvinhas, Marião
por Jorge Lage

Vale de Gouvinhas, Mirandela
Vale de Gouvinhas, Mirandela (imagem composta)

Adeus ó Valgouvinhas, Marião,
Não és bila nem cidade, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião,
És um pobo pequenino, Marião,
Feito à minha vontade, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião,
Hei-de cercar Valgouvinhas, Marião,
Com trinta metros de fita, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião,
À porta do mou amor, Marião,
Hei-de pôr a mais bonita, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião.
Os meus olhos não são olhos, Marião,
Sem estarem os teus defronte, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião.
Parecem dois rios de auga, Marião,
Quando vão de monte a monte, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião.
Já corri os mares em volta, Marião,
Com uma bela branca acesa, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião.
Em todo o mar achei auga, Marião,
Só em ti perco a firmeza, Marião,
Sim, sim, Marião,
Não, não, Marião.
Adeus ó Valgouvinhas, Marião...

Do cancioneiro popular e que se adaptaria a muitas terras, bastando para tal substituir o nome de Valgouvinhas. Mas, só Valgouvinhas a manteve e lhe pode chamar sua. É uma canção popular muito melódica feita à medida do saudoso estado de alma e bem a podemos referir como uma canção de migrantes ou de emigrantes. É das minhas canções preferidas transmontanas e, por isso, decidi pô-la aqui, com algumas correcções da linguagem urbana para a rural. Assim, «fai» mais sentido e respeita mais a tradição dos nossos antepassados. Se os pudéssemos trazer para junto de nós, eles diriam: 
– Oh homes, falai c’mo nós! 
Há um verso que discordo porque o sentido que lá dá não é, certamente, o seu significado inicial. O verso, «Quando vão de monte em monte» quer apenas dizer que os rios correm entre montes e vales. Mas, qualquer ribeiro ou fio d’água «tamém» pode correr por montes e vales. Porém, a redacção correcta do verso deve ser: «Quando vão de monte a monte». Quando um rio «vai de monte a monte», quer dizer que vai cheio e transborda, cobrindo vales e varges, levando na enxurrada tudo o que apanha à frente. Nas grandes cheias os rios vão de monte a monte. E a forma poética de exprimir a dor da ausência é bela e esmagadora, porque os olhos são as janelas da alma. Da nossa parte é uma forma de homenagearmos o nosso mundo rural e a sua cultura.

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