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Centenário da Batalha de La Lys


por Jorge Lage

A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Lisboa, homenageou o Soldado Milhões, a 14 de abril de 2018, por ocasião do Centenário da famosa e maldita Batalha de La Lys, durante a Primeira Grande Guerra. Esta viria a terminar, sete meses depois, pelas onze horas, do dia 11 de novembro de 1918. Esta guerra foi de uma grande envergadura em que lutaram de ambos os campos de batalha cerca de setenta milhões de militares e tombaram nas várias frentes de guerra uns nove milhões. A batalha mais mortífera para o CEP (Corpo Expedicionário Português) deu-se na planície de La Lys. Esta toca-me por vários motivos: pela dimensão das baixas do exército português (alguém terá passado informação aos alemães porque fomos atacados quando se ia processar à substituição das nossas tropas por ingleses); por, mesmo estando feridos, carregarem na retirada o célebre Cristo das Trincheira que se encontra no Mosteiro da Batalha (há quase 60 anos); por as altas patentes militares enviarem os soldados para a frente desta guerra clássica sem estarem treinados (diziam que aprendiam na frente de batalha – e com que custos?); pela decisão trôpega da maçonaria reinante ter decidido um grande envolvimento de Portugal por motivos imperialistas e colonialistas. 

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Ainda conservo os saberes que o meu pai me transmitiu, como o comboio vindo de Bragança, cheio de soldados e que nem os deixaram parar em Mirandela com medo que desertassem, dizia-se. O ex-Presidente do Município de Mirandela, Capitão Ilídio Esteves (também foi Comandante da GNR) participou na 1.ª Grande Guerra. Este quis que o meu avô materno também se alistasse, mas ele preferiu ficar-se pela minha aldeia já como chefe de família. O meu pai, que sempre gostou de fardas e armas, dizia que foi por medo. Também foi e é voz corrente que o soldado Milhões (Aníbal Augusto, de Valongo de Milhais – Murça) na sua odisseia heróica, com imensa sorte (a sorte protege os audazes), se abrigou atrás do cadáver de uma mula, enquanto fazia frente aos alemães com uma metralhadora. Já como estudante, conheci o soldado Milhões e, enquanto militar, alguns graduados expedicionários desta Grande Guerra. Um meu colega do Colégio Marista dos Pousos – Leiria, dizia-me que o seu avô foi surpreendido pelas costas pelos alemães e que a seguir o matariam, como à maioria. Ele, por instinto, ao erguer as mãos tira do bolso um maço de cigarros (um bem caro na linha da frente) que ofereceu ao alemão que o prendeu. Logo, o alemão intercedeu por ele, poupando-lhe a vida. Quando se falava, na minha vida de estudante, na capacidade dos alemães, dizia-se que eles preparavam alguns ataques relâmpagos dignos de filmes. Chegavam a deixar alguns capacetes no cerro ou na linha de trincheira e surpreendiam, os nossos soldados, pelas costas. Conheci o herói Soldado Milhões com 72 anos (em 10 de Junho de 1967) e veio a falecer três anos mais tarde. Trazia a condecoração da Torre Espada e um chapéu, estando parado com dois ou três amigos (eu passeava, ao fim do dia com um pequeno grupo de amigos, entre a Pastelaria Gomes e o fim da rua Direita), em frente à Capela de S. Paulo (Capela Nova, com traço do arquiteto Nicolau Nasoni).

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