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Fisgas de Ermelo – Mondim de Basto

Eu sei duma "Maravilha", por Luís Jales de Oliveira


Cascata das Fisgas de Ermelo - Mondim de Basto
Cascata das Fisgas de Ermelo - Mondim de Basto

“Das Fisgas não falarei. A medonha realidade perderia nas palavras a telúrica dimensão. São quedas impressionantes de deixar cair as horas em divina contemplação.
A um passo do abismo, direi da visão dantesca das entranhas dos infernos. Nas pias, ou nas piocas, nas piscinas naturais, direi da visão edénica dos esplendores do Paraíso.
Perspectiva wagneriana, rente às nuvens de alabastro – perspectiva genesíaca, rente á vaporosa espuma das cataratas do Olo.
Um brinco da Natureza!
Quando Deus criou o mundo, era tudo muito bom. Nas Fisgas, cala-te boca, exagerou um bocadinho…
Se eu dissesse, mas não digo, diria que o azul do Cabril é céu dos falcões peregrinos que fecundam o colo da brisa.
E no centro da epopeia, o rude pastor dos penhascos transvestido de Moisés. Trezentas cabeças aos pés e nos olhos um soneto azul celeste. Só ele sabe dos mistérios, dos trilhos e das veredas, dos segredos dos druidas, do abre-te-Sesamo dos tesouros escondidos. Só ele sabe da “Poça das Carriceiras”, da “Poça da Pena do Pombo”, da “Calda de Barnabás”, dos “Fornos” e da “Pena Amarela”, da “Fonte da Gricha” e da “Casa do Diabo”, do “Buraco dos Fontelões”, da “Fraga da Malhada”, das “Pias do Cadaval”, da “Rechouza” e do altar do “Pouso da Águia” com fossetes esculpidos de três palmos de dimensão.
Hercúleo e destemido, ladino e aventureiro maneja a racha de lódão como quem volteia a espada. Dos lobos, defende o rebanho e “quando a águia aparece/ a rapinar o miolo/ daquele pão de sarilhos/às medonhas Fisgas desce/em cordas, por sobre o Olo/num cesto, rouba-lhe os filhos”. 
Reza a crónica de D. João, chamado “O da boa memória” que Gonçalo Vaz o Moço, pastor das Fisgas de Ermelo, o salvou dos Castelhanos na Batalha de Aljubarrota. É Fernão Lopes que atesta, nos pergaminhos do Tombo, que o tal “besteiro” de Ermelo mereceu o Real Privilégio do “Ajuda-me Companhão”.
Mas há que voltar ao Rio que os celtas divinizaram. Chamaram-lhe Yolo, ou Apolo, deus da luz, da claridade, deus brilhante e luminoso, o Febo resplandecente, que a toponímia regista.
Dependentes daquela luz, daquela bênção dos deuses, subiram os homens de Ermelo para comprar a levada, a três velhas da montanha, herdeiras universais da água do Rio Olo. Trocaram a água da rega, como quem troca maquias, pela porca ajavardada, porca russa bem cevada, de que fala a tradição.
Ainda hoje, na Primavera, escalando as bordas do Ermo, sobe o povo pelo rego, tratando da manutenção, celebrando, ao som de tiros, cantando e dando vivas às três velhas de Varzigueto. 
Das Fisgas não falarei.
Evoco o Rio de Lamas, que corre o pranto nas pedras, e se atira, apaixonado, da falésia desmedida. Como Ícaro se imolou com asas incendiadas.
O Olo parece Apolo na vertigem suicida de querer beber a luz e mergulhar nos abismos.
Eu sei duma “Maravilha” !!! 
Onde as águias fazem ninho e os falcões peregrinos fecundam o colo da brisa.
Onde o Criador do Mundo exagerou um bocadinho…

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