Vilarinho - aldeia satélite de São Pedro de Vilar de Ferreiros
por Costa Pereira
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Vilarinho (vista parcial) |
Aldeia satélite da povoação de São Pedro de Vilar de Ferreiros, a localidade de Vilarinho cujo nome etimologicamente nasceu à volta da primitiva "Villa" agrária ou "Villar" inicial que, graças à romanização alguém, em tempos remotos, achou por bem implantar neste bucólico e acidentado espaço geográfico que os "grichos" do sagrado Monte Farinha, virados a sul, fertilizam desde o Vale do Reino (Richeiras), pelo córrego dos Poços do Linho ou Carregal, até lá ao fundo de Ervedeiro, onde na horizontal, descendo das bandas de Ventozelos, corre a Ribeira Velha ao encontro do Cabril, afluente do Tâmega.
Anterior à romanização desta espaçosa área geográfica, são por certo os
inúmeros vestígios de povoamento pré-histórico que dentro e ao redor de
localidades como Vilarinho, ainda hoje aparecem a esmo pelos ermos
circunvizinhos da povoação, nomeadamente no Premurado e Vale de Chão. Espólio
arqueológico a que se junta uma considerável série de topónimos de origem
desconhecida e cuja raiz bem pode entroncar aqui em épocas anteriores ou
coevas dos habitantes do castro ou citânia do Meão Grande ou "Meão da
Mesquita".
Asnela, Argebide, Bezerral, Coriscada, Cucassa, Estoro da Laja, Espaio, Rila,
Requeixo, Torno e Ventozelos são alguns desses estranhos componentes da
toponímica local.
Herdeiros de tão valioso património histórico, os naturais desta ubérrima
aldeia de entre Cucassa e vertentes dos "montes de farinha", que a montante da
Escraviança até ao "fojo" do Campo do Seixo, a Ribeira Velha, com suas
cristalinas águas, mais as da Cucassa, generosamente revitaliza, para além de,
ao longo dos séculos se terem sabido identificar com ele, têm sabido também de
forma peculiar dar dele o devido realce e testemunho, sobretudo através da
etnografia.
O moinho de rodízio, que na Idade Média apareceu com todo o seu fascínio de
novidade e poesia a embelezar a paisagem ribeirinha e o percurso das levadas
de regadio que pela meia encosta sucessivas gerações sedentárias foram
rasgando, não é mais que o sucessor do rudimentar almofariz castrejo ou da
atafona com que os primitivos habitantes das antigas Ferrarias de entre Tâmega
e Douro trituravam aqui os cereais. Muitos deles ainda hoje em actividade,
quer no ribeiro entre a Ponte e a Escraviança, quer na levada de Sargacedo, ao
cimo de Cabaninhas.
Estes curiosos e tradicionais engenhos são imóveis preciosos do património
histórico e cultural da terra e que por isso mesmo merecem particular
veneração por parte duma comunidade que tanto lhes deve. Ainda no mesmo
contexto, e no domínio sócio-económico local, para além do moinho, do
alambique e da azenha é de realçar também neste campo o papel importante que
desempenha a eira, o espigueiro e o palheiro, que aliados à casa tradicional
de um primeiro andar, com os baixos destinados a adega e cortes do gado, e a
parte superior, com varanda sobre o quinteiro e acesso por escadas exteriores,
repartida pela cozinha e sobrado para dormitório colectivo da família, são
elementos que fazem parte da vida rural, porque neles e à volta deles se
desenrolam actividades de excelência como: o fabrico da bagaceira e do azeite,
as malhadas, as desfolhadas, a conservação do "penso", a pisada e
envasilhamento do verdasco, a matança, o fumeiro, a cozida e tantas outras
actividades que fazem parte do labor aldeão e só o polivalente artesão da
terra sabe manusear.
Consagrada a Santo António e Santa Bárbara, a progressiva povoação é nesta
altura a mais populosa aldeia da freguesia de Vilar de Ferreiros. Em 1985
contava 200 fogos e 860 habitantes...
(...)
in "Vilar de Ferreiros na história, no espaço e na etnografia"
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