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O escano

O escano, por Jorge Lage


O Scano


Dormem os camponeses no teu regaço,
Ó scano de uma vida imorredoira.
Toca-se do teu canto a dobadoira,
Vai navegando tudo no teu espaço.

Saltam para ti felinos na noite fria
Tombam na cinza tamancos que o lume cresta.
Serves de abrigo aos torgos de urzes e giesta
E és berço de menino durante o dia.

Cai sobre ti uma tábua à refeição
Nela se poisam malgas de barro grosso,
De mãos erguidas rezam o pai-nosso,
Antes do caldo servir partem o pão…

E pela noite dentro, juntos na vida,
Rezam a oração na despedida,
Uns elevam a voz ao sono resistindo,
Outros: - amém! - respondem, já dormindo.

Há sempre uma brasa viva na lareira,
Ficas tu e ela.
- Adeus meu scano lindo!

Abadim, 1959, de Abílio Bastos


Os velhos escanos das nossas antigas lareiras são dos que mais histórias nos podiam contar e de terços rezados. O pai do Abílio, como não tinha «rosairo», para a reza servia-se do martelo para cada um dos mistérios e ao fim de cada dezena virava a face do mesmo.

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