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Terras do Marão

Por Terras do Marão, de Costa Pereira


Travassos...

Há muito tempo que não visitava Travassos, esta aldeia do Bilhó que o rio Cabril ou Mestas rega. Voltei a fazê-lo no início de agosto, aproveitando uma deslocação de Vilar de Ferreiros a Vila Real (via Lamas de Olo) para assim mais uma vez matar saudades dos meus tempos de criança em que, com frequência, a pé ou ao colo de minha saudosa mãe percorria os cantos dessa simpática aldeia da montanha maronesa e na hospitaleira casa da também já saudosa Ti Ninfa de Travassos, onde me demorava a brincar.
Fiquei encantado com o seu património arquitetónico devidamente restaurado, e em adequados cartazes identificado. Um placar no desvio, em Celas, a recomendar aos turistas que para entrar em Travassos de autocarro só indo à volta pela aldeia do Covelo, ficava ali muito bem, pois é sabido que pelo lado de Celas só lá se chega em carro ligeiro. Fica a recomendação.

Próximo da aldeia do Bilhó, com vista para a Senhora da Graça, Mondim de Basto

Depois da visita à capela de Santa Bárbara e do passeio pela centro da turística aldeia, foi o regresso de volta à estrada principal para prosseguir em direção a São Cristóvão de Parada de Cunhos, onde desta vez nem oportunidade tive de cumprimentar o famoso numismata de craveira internacional, Sr. Padre João Parente, pároco da freguesia. O propósito nesse dia era ajudar a dar cabo de um leitão que "caçado" na Régua, veio ainda muito quentinho parar a casa da minha mana Amália, pelas mãos do meu cunhado Reis e do enfermeiro Rui a quem coube a tarefa de com mestria o retalhar. Foi um almoço familiar que além do mais valeu pelo convívio e ocasião para uma "africana" alfacinha regressada de Angola conhecer as primas Isabel e a Liliana, esposa do Mário P. Cabral. 
Para o café e digestivos da ordem, que nestes momentos de animação fazem parte do cardápio, foi escolhida a vizinha Quinta de São Miguel, cuja antiga capela, hoje fechada ao culto, pertence a D. Dinora Guedes Lousa, proprietária do restaurante Toca do Lobo. 
"Merenda comida, companhia desfeita", diz o povo. Também assim aconteceu comigo. Era sábado e no domingo, dia 8, havia festa em Vilar de Ferreiros (Vilarinho) à qual eu desejava assistir; por isso não houve ceia ou jantar para mim, em Parada. Mas de regresso ao ponto de partida tive tempo para em Lamas de Olo dar uma saltada a Dornelas, povoação do planalto maronês (Parque Nacional do Alvão) onde apesar de algumas violações arquitetónicas ainda se veem muitas casas de pedra com telhados de colmo. É uma das aldeias do Parque que o Parque bem podia ajudar a melhorar mais em termos de aproveitamento turístico. 
Desta aldeia serrana pouco sei da sua história passada, por isso me sirvo de um comentário do Dr. Domingos Teixeira Mesias feito no "Portugal, minha terra", em 18 de setembro de 2007 a uma publicação que fiz à volta de Mons. Ângelo Minhava. Adianta o Dr. Domingos: "Queria trazer aqui a informação doutro ilustre conterrâneo do senhor Padre ("pai") Monsenhor Thomás Peixoto, ordenado pela Diocese de Braga e na sua casa paroquial nasceu em 1889, a minha bisavó materna, Patrocínia Dias Peixoto. Esta instruída senhora deixou memória de vida e descendência numerosa em Dornelas, Lamas d'Olo". 
No vale do Olo, onde o granito abunda e as águas que regam e fertilizam os lameiros também, tanto o gado maronês, como o mular, burros e cavalos, tem ali espaço privilegiado. Nesse cenário a aldeia de Dornelas é um bom exemplo do uso dessas potencialidades naturais, evidenciado na construção da casa e na tradicional exploração agro-pastoril. Os telhados de colmo (palha de centeio) ainda hoje podem ser ali admirados.
De regresso e já no concelho de Mondim foi a vez da Anta. O desvio até ao centro da aldeia é curto, poucos metros. Desci até lá para ver a capelinha de São Jorge que Camilo conheceu, e cita em Doze Casamentos Felizes, servindo-se para tal da boca do "Ladrão da Anta": "
– Já sabe que a minha aldeia é Anta, na serra, a duas léguas de Vila Real. À saída do povo está uma capela e num outeirinho, à esquerda, está um cardenho. Vive lá a minha irmã Maria. 
Romance é romance, mas quer em Memórias do Cárcere, quer em Doze Casamentos Felizes, Camilo revela que esteve na Anta, assim: 
"A Anta é um paraíso terreal onde os lobos passam pelos habitantes e os habitantes passam pelos lobos, como nós pelos cãezinhos de regaço. Lá estive eu no dia 20 de agosto de 1860, comendo a meias com o meu cavalo um vintém de pão negro que um lavrador me vendeu compadecido, por me ver a fome estampada no rosto e o cavalo arqueado e melancólico como chorão de cemitério."
Texto de Costa Pereira, enviado para o blogue NetBila, em outubro de 2010.

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