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Centro do verdadeiro Alvão

Romagem de saudade ao centro do verdadeiro Alvão
por Costa Pereira


Há muitos anos que não fazia o trajeto que de Vilar de Ferreiros pela encosta da serra de Ordens e da granítica Alvadia conduz ao planalto do verdadeiro Alvão. Pelo Covelo, simpática aldeia da freguesia de São Salvador do Bilhó, deixei o concelho de Mondim de Basto para entrar, por Macieira, no de Ribeira de Pena. Macieira é uma airosa povoação da freguesia de São João Baptista de Limões, e como as demais aldeias da freguesia apostada na proteção do seu harmonioso e rico património tradicional. 
Já depois de Macieira, ainda na meia encosta da serra de Ordens, esta panorâmica com o Monte Farinha lá ao longe, como pano de fundo, é admirável! Mas todo o trajeto de Macieira a Alvadia é sedutor e oferece uma espetacular panorâmica desta zona de transição entre Trás-os-Montes e Minho, e que o Tâmega a partir de Ribeira de Pena, oposta a Cabeceiras de Basto (Minho), até Mondim, oposto a Celorico de Basto (Minho) delimita administrativamente. 

Igreja Matriz de Ribeira de Pena

Também no terreno a paisagem forte do granito seduz e o encanto aumenta quando nos aproximamos do fraguedo por onde ligeiras correm as águas cristalinas do rio Póio. Rio que nasce na serra de Alvadia (área de Lamas) e descendo monte abaixo vai ao fundo da vila de Cerva desaguar no rio Louredo que o conduz ao Tâmega. 
Pese o desvio que fizeram de uma parte do caudal para um reservatório donde entubada a água desce pela encosta, fazendo lá no fundo mover uma pequena turbina-elétrica que não sei se ainda funciona, o Póio nem assim perdeu a sua importância hidrográfica que no Cai d'Alto e Poço do Inferno, já em terreno de Cerva, tem o seu expoente máximo.
É uma referência, um selo de mais valia para o turismo de montanha que Alvadia deve explorar. É algo similar às Fisgas de Ermelo, com a diferença da rocha num sítio ser de xisto e noutro de granito. O objetivo do passeio não era demorar, mas só matar saudades da serra que há muitos anos trilhei. A última vez foi no início da década de 50, de Vilar de Ferreiros a Goivães da Serra, quando ainda não havia estrada, nem luz elétrica. O que então demorou quase um dia a percorrer, hoje faz-se em pouco mais duma hora. Isto a medir pelo tempo que demorou a chegar junto à igreja paroquial de Santa Cruz de Alvadia: saímos de Vilarinho cerca das 10h00 e depois de várias paragens pelo caminho, não era ainda meio dia e já ali nos encontrávamos.
Alvadia é uma freguesia do concelho de Ribeira de Pena, formada por três lugares: Alvadia, Favais e Lamas. Um dos propósitos que vinha em agenda era almoçar aqui, para isso atempadamente se escolheu o prato e marcou a hora. Outro era cumprimentar um ilustre alvadiense que muito respeitamos, o Sr. Padre Fernando José da Costa, tio dileto dos proprietários do Café-restaurante onde se almoçou. A saúde do bom sacerdote não lhe permitiu fazer-nos companhia, mas em sua casa recebeu o nosso abraço. Para os donos do Café, D. Maria dos Anjos e Norberto Costa os meus parabéns pela arte de bem receber e servir. 
Pela "ponte dos Rolos", com destino a Goivães, deixámos a sede da freguesia, aproveitando para junto à sua ponte tirar algumas fotos e assim nos despedirmos em beleza do Póio (não Poio) e da bucólica aldeia de Alvadia. Local muito procurado por banhistas de perto e longe que no Verão aqui vêm refrescar-se, e no Inverno também pelos amantes dos desportos radicais, a canoagem, dado as boas condições que o rio em certos pontos oferece à prática desse desporto. Além de alguns banhistas tivemos ocasião de admirar as muitas e curiosas "piocas" ou "marmitas de gingante" que na rocha granítica as águas do Póio ao longo dos séculos cavaram no leito do rio. Vale a pena ver. 
Muitos são aqui os espaços azados para tempos de lazer e distração aquática. E nós só não aproveitámos porque a jornada era comprida e ainda só ia a meio. Pela mesma razão ficou por visitar Favais, com a sua capelinha de Santa Luzia e a famosa "Pedra de Favais"; assim como Lamas, a maior aldeia da freguesia e que tem Nossa Senhora dos Remédios por padroeira. Não visitei Lamas, mas, entretanto, ao passar na estrada ao lado parei, para dali saudar a aldeia que a pé e descalço há muitos anos atravessei. 

Pinduradouro (vista parcial)

A meta agora era Goivães da Serra, onde pela decadente aldeia do Pinduradouro, entrei na freguesia. 
São Jorge de Goivães da Serra é uma freguesia do concelho de Vila Pouca de Aguiar situada na serra do Alvão, a 10 km a sudoeste da sede do concelho. Inclui os seguintes lugares: Goivães, Pinduradouro e Povoação. 
Alcançada a meta desejada, nada como depois de cumprimentar São Jorge, ter um cão-pastor por anfitrião, a fazer-me relembrar os tempos em que durante cerca de um mês nesta terra fui pastor. Com dois companheiros semelhantes a este, por mais que uma vez afugentámos o lobo ibérico que esfomeado teimava atacar as 220 reses (ovelhas e cabras) que me estavam confiadas.
Foi uma romagem de saudade ao centro do verdadeiro Alvão que cedo pisei e conheci.

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