Arroz de marisco: mexilhão e gambas
Se as memórias, como costuma dizer-se, não atraiçoam a verdade pela circunstância do esticar do tempo, alguém terá designado por arroz de “cheirisco” o arroz de marisco em quantidades reduzidas do dito. Essa atribuição, de facto, ela mesma cheiraria, não direi a um certo desdém, mas, no mínimo, representaria uma significação pouco abonatória para o arroz de marisco, nem sempre constituído por variedade razoável e dotado de raras qualidades de tempero.
Em tacho suficientemente largo, coloque uma cebola partida em pedacinhos pequenos, mergulhada numa porção de azeite. Aconchegue ao lume, forte de início, e comece a pensar no aperitivo que degustará, enquanto durar o trabalho gastronómico, pois sem o aperitivo – no caso uma boa fatia ou duas de queijo de ovelha Flor da Cardenha, ali dos lados de Moncorvo, e um copo branco de Sabrosa, bem fresquinho – sem o aperitivo, como digo, não gozará da inspiração suficiente para levar a bom termo este arroz que, apesar de ser constituído apenas por duas espécies de marisco – mexilhão e gambas – não terá nada de parecido com a tal designação acima referida.
O azeite, agora bem quente, começa a dar conta da cebola, começando esta a aloirar-se suavemente. Está na hora de, após lavagem de dois pimentos vermelhos médios e cortados grosseiramente aos pedaços, lançá-los para o estrugido, pedindo a consciência uma trinca no queijo e um gole do branco, dando gás à ideia que sugeriu este almoço.
Entretanto, abafado agora o estrugido com o testo e mínimo o lume, lava-se uma pequena quantidade de mexilhão. Um pouquinho de sal por cima, e “aguarde se faz favor”.
Meia dúzia de tomates-cereja, retirada de uma boa quantidade generosamente oferecida por uma amiga, juntaram-se também ao estrugido.
As gambas que vão igualmente acrescentar-se colocaram-se numa pequena travessa, temperando-se com um pouco de vinho branco, sal, pimenta, piripíri, orégãos, uma pitada de caril e outra de colorau.
O estrugido está já capaz de absorver o mexilhão. Uns minutos mais adiante, está na hora de colocar o arroz e a água a ferver dentro do tacho, juntando-se ao estrugido, mexendo um pouco, lume no máximo, e toca a dar uma voltinha às gambas que dormiram uma meia hora na marinada de que lhes falei.
Agora, entregue-se a uma frigideira sobre lume brando um fio de azeite com alho bem picado. Depois deste estalar, coloquem-se as gambas durante dois ou três minutos.
O arroz está praticamente no ponto, e pronto para receber as gambas condimentadas. Coloquem-se espalhadas na superfície do arroz sem mexer. Mais dois minutos com o testo sobre o tacho e o arroz de marisco pode ir para a mesa.
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