Terras vizinhas da região demarcada do Alto Douro
Em alguns textos sobre o Douro, concretamente acerca da região vinhateira do Alto Douro, refiro-me por diversas vezes a áreas vizinhas do território da região demarcada como sendo elas próprias parte desta região, hoje em dia muito falada e apreciada, não apenas em Portugal, mas por todo o mundo, como se verifica pela chegada de turistas de muitos países, sobretudo no verão e na época das vindimas. Vozes discordantes fazem ouvir-se e, de certo modo com razão, pois, de facto, a região está bem definida nos seus limites e curvas, estabelecidos em certa altura da História. Mas, sendo algumas áreas tão intimamente ligadas ao Douro, pelas raízes culturais dos seus habitantes, pelos costumes comuns e vocabulário e os ditos muitos deles coincidentes, e também pela morfologia e características das terras que igualmente produzem vinhos de grande qualidade, permito-me assim considerar essas pequenas áreas encostadas à região do Alto Douro, como parte integrante da região, complementando-a de certo modo.
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Cópia composta por netbilanews.com de uma fotografia antiga de que se desconhece o autor |
A região vinhateira não é só uma região comercial que muitos aproveitam e sabem explorar, e um território que em tempos se demarcou, segundo regras que nem sempre terão privilegiado quem a construiu e moldou ao longo de séculos. A este propósito convém falar-se das rogas. Como é sabido, as rogas são grupos de pessoas que, organizadas por uma delas – a mais velha ou responsável –, vão em trabalho para as vindimas. Nos dias de hoje, os trabalhadores fazem transportar-se de carro ou camioneta, para os trabalhos das vindimas e outros relacionados com o vinho e as vinhas, mas recordo aquelas rogas que, até às quintas do Douro, percorriam a pé estradas e atalhos, vindas de terras circunvizinhas. Seguiam esses grupos de pessoas com muita alegria, pois apesar de deixarem as suas terras e aldeias, iam participar nos trabalhos das vindimas, nas grandes quintas da região vinhateira. Desde sempre se considerou que as vindimas são tarefa de muito trabalho, é certo, mas envolvidas em sentimentos de contentamento, divertimento e festa.
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Vista parcial do Peso da Régua e encostas durienses |
O Douro não é uma ilha isolada. O Douro é feito também, desde sempre, dessa gente que se dirigia não só às vindimas, mas também a muitas outras tarefas relacionadas com a cultura das vinhas do Alto Douro. Por isso, o Douro fez-se e ainda se faz de bons vizinhos que o sustentam com as águas dos diversos afluentes, mantendo as gentes mais próximas e as mais afastadas do grande rio raízes culturais comuns e relações de boa amizade.
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