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Noroeste Transmontano e suas Barragens

Cávado, Rabagão e Bessa
por Barroso da Fonte


Publicado pela primeira vez, neste blogue, em 01 de março de 2013

São três os principais rios que nascem, fertilizam e refrescam os solos de Barroso: Cávado, Rabagão e Bessa. Todos férteis em truta e outros espécimes piscícolas. O primeiro nasce na Fonte Fria, na vertente sul da Serra do Larouco, (1.525 m).  A Câmara fez, à sua passagem, bem junto à marginal, um parque de lazer, com um reconfortante açude que substitui, para muitos, a praia atlântica e mediterrânica, para além de parque de merendas. Segue o leito que sempre teve até à foz, em Esposende. Mas não chega lá sem ser útil ao país, mais do que a Barroso. Nesse leito foram construídas, há cerca de meio século, a albufeira de Sezelhe que por túnel subterrâneo de cerca de 5 km, leva o reforço de água à Barragem do Alto Rabagão. O caudal que prossegue originou e mantém a barragem de Paradela construída em 1956. Não se esgota aí esse caudal, antes reúne novos riachos que vão encontrar-se em Vila Nova de Sidrós, com o segundo rio mais importante do concelho: o Rabagão, depois de cumprir o seu fadário. 
O Rabagão nasce na lama dos Porcos, em Codeçoso (Meixedo), dirige-se para sul, fecunda esse imenso e fértil vale, atravessa a EN 108 (Montalegre-Chaves), banha e distrai os pescadores da boa truta. Originou a ponte romana de Peirezes e entra, mansamente, em S. Vicente da Chã, onde começa a maior Barragem do sistema Cávado-Rabagão, construída entre 1958 e 1966. Teve esta albufeira o privilégio de ter a primeira central de bombagem do país, ou seja, além do túnel que perfura a serra de Viade para ir buscar o reforço do caudal ao Cávado. Tem mais um túnel de 5,9 km que leva a água da Barragem de Pisões (ou Alto Cávado) para a da Venda Nova (1950). Mas, em caso de necessidade, esse aproveitamento, até àquela data, inédito, era composto por uma central subterrânea, com dois grupos turbino-alternador-bomba de 45 MVA cada. Essas bombas permitem a bombagem das águas da albufeira de Venda Nova para a de Pisões. A subestação é composta por dois transformadores com as saídas a 150 KV.
A Central de Venda Nova é a mais antiga central de rede eléctrica primária, tendo entrado em exploração em 1951. Pertenceu à Hidroeléctrica do Cávado, a mesma empresa que construiu a de Pisões, também conhecida por Alto Rabagão. Construiu também a de Salamonde que entrou em serviço em 1953. Embora esta albufeira ocupe terrenos dos concelhos de Vieira do Minho e de Terras de Bouro, uma boa parte pertence ao concelho de Montalegre. E o sistema Cávado-Rabagão, ainda alimenta mais uma barragem: a da Caniçada. 

Albufeira da barragem dos Pisões

Bem podemos dizer que Montalegre é o concelho das barragens que conferem beleza, frescura e desporto às populações periféricas. E sobretudo iluminam e dão força motriz a muitas unidades industriais do norte de Portugal. Mas os barrosões têm sido injustiçados porque pagam a energia que exportam mais cara do que quem a recebe e, as contrapartidas, estão longe, muito longe, de compensarem a ocupação dos melhores vales, que obrigaram à desertificação do concelho e à não cobrança de impostos, como o IMI.
Em Terras de Barroso há, pois, três barragens que produzem energia que abastece o país. Pisões, Venda Nova e Paradela. Integralmente em solo do concelho de Montalegre. Ainda parcialmente em solo de Montalegre está a Barragem de Salamonde. É nesse solo que se fundem os dois importantes Rios que ao longo do seu curso refrescam e injectam nos terrenos envolventes, a humidade que os lameiros exigem para florescer o feno e medrar a erva que engordam, com o farelo e a batata, os gados bovino,  caprino e suíno que constituem a subsistência económica da região.
Mas esse caudal não cessa aí a sua valência: gera a quinta albufeira do Minho (a de Caniçada), onde chega, por desvio construído, o caudal do Rio de Vilarinho das Furnas.
Bem poderá dizer-se que as Terras planálticas de Barroso, já de si agressivas e muito difíceis de trabalhar, dificultam a produtividade quer pela natureza do chão agreste, como pelo rigor dos invernos, num palco, onde se vivem nove meses de inverno e três de inferno.
Turisticamente conferem as várias albufeiras do sistema Cávado-Rabagão, uma beleza paisagística incomparável. Acresce o aproveitamento que as Câmaras do Alto Tâmega possibilitaram na captação de águas para abastecimento domiciliário a concelhos menos dotados desse bem essencial à vida. E ainda a prática da pesca à truta, em riachos, antes de entrarem nas albufeiras. Também a motonáutica começa  a seduzir os mais ousados sobretudo quando o Algarve e as praias mais concorridas ficam longe de satisfazer as possibilidades, face à crise que afecta a maioria dos populares. Por tudo isto estranha-se que os hoteleiros e ambientalistas não tenham apostado em  empreendimentos turísticos nas margens destes rios portugueses, ainda sem poluição  e sem concorrência. Pensamos que até os jornalistas e editores que se interessam pelo naturismo ainda não tenham descoberto esta faixa de incomparável beleza entre a Cabreira, o Larouco e o Gerês.

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