Igreja Matriz de Chelas, Mirandela
Chelas, Mirandela – "Aldeia bordada de xisto"
por Jorge Lage
«Aldeia bordada de xisto» foi o epíteto dado pelo Cónego Silvério Pires,
pároco de Chelas, do concelho de Mirandela, por ter no casario antigo e
arruinado como material mural o belo e nobre xisto.
Apesar de ser uma pequena aldeia, outrora sede de freguesia e famosa pelas
«barbas» e pelas «Barcas de Chelas» por onde, até final do século XIX, se
escoavam muitos dos produtos agrícolas e pecuários, de toda a lombada ou corda
que se estende até ao extremo das Terras de Lomba. Apesar de pequena, a Igreja
matriz, dedicada a Santa Maria Madalena, está edificada no sentido poente-nascente. Uma linha imaginária a passar pelo meio da porta principal / campanário e do
altar-mor divide-a em duas partes: as Eiras a Norte da Igreja (Nova) e o
Carrascal a Sul. Carrascal tem como sinónimo sardoal ou azinhal. Os moradores
das Eiras julgavam-se mais importantes do que os do Carrascal.
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Igreja Matriz de Chelas, Mirandela |
Nas Eiras havia os casais: Casal do João Vaz (herdado pela esposa), o Casal da
D.ª Elisa (de Vassal-Valpaços), o Casal dos Sarmentos e o Casal do Capitão
Ilídio Esteves. Na minha infância eram frequentes as brigas colectivas entre a
garotada, bem como os desafios de futebol entre adultos ou entre crianças, os
das Eiras contra os do Carrascal. E anunciava-se com pompa, como se fosse a
fronteira entre duas nações: - Atenção, muita atenção!// Vai-se realizar um
desafio internacional,// são «os das Eiras»,// contra «os do Carrascal»! Eram
jogos de futebol renhidos como se fossem duas selecções de dois países rivais.
Ninguém queria perder. Quando jogava o rapazio, às vezes, havia uma batalha
campal à pedrada, em que o campo de morte era o Terreiro da Pôça.
A toponímia é implacável no campo da verdade ou da realidade. No Terreiro da
Pôça, havia uma pôça de água, quase no seu extremo Noroeste, que eu vi com os
meus olhos, quando o empedrado das ruas era a palha centêa que ali curtia, no
Outono e Inverno, para se transformar em estrume. Cada lavrador deitava a
palha na sua rua. Quando curtida era levada para a estrumeira em que se iam
colocando camadas sucessivas de palha curtida e de estrume das loijes ou do
curral. Nas estrumeiras, de forma rectangular, nasciam na primavera frágeis
cogumelos ou fungos a que se chamava mijacões.
Nota escrita com base no livro «Mirandela Outros Falares», pág. 33 e 118
Como lhe fico agradecido pela divulgação da nossa cultura, amigo Fernando! O meu livro em Mirandela pode ser pedido à Livraria Cristina - Mirandela (junto à saída da Ponte Velha). Em Vila Real na Livraria Traga-Mundos (está na Feira do livro do Porto). No Porto na Livraria Académica (222005988). Obrigado e a todos os que gostam da nossa cultura.
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