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A festa começou

A festa começou por Jorge Lage Enquanto a banda "bai" jantar, o "pobo" "bai" cear Recuem aos anos cinquenta e sessenta, quando a maioria das aldeias do nosso concelho não tinham luz eléctrica. Na escuridão da noite era a candeia, o lampião, o gasómetro, o petromax e o candeeirinho de mesinha de cabeceira. Em finais dos anos sessenta, à luz da candeia, na mesa da cozinha, li muito do Eça, dos Lusíadas, do Gil Vicente e dos autores, perfilados na «Selecta Literária» do António José Saraiva e Óscar Lopes, e dos medievos trovadores e cronistas. Os meus pais viam na luz mortiça da torcida e do murraco gasto o meu trabalho. E tínhamos pensamentos antagónicos. Eles pensavam que o meu trabalho de estudo era mais custoso, porque «dava cabo da cabeça» e eu achava que era um privilegiado, que o estudo era férias, porque trabalho era o braçal e extenuante da faina campesina. Fosse como fosse, vamos ser realistas, trabalho duro

Criar um Filho

Criar um filho na década de cinquenta do século XX por Jorge Lage Havia todo um ritual com os filhos Falar sobre o meu passado e dos meninos da minha aldeia, a sessenta anos de memória ou mais, para quem se encontra pelos setenta, não é tarefa fácil, exigindo muita concentração e algumas consultas aos meus irmãos vivos, cuja memória é diferente da minha, porventura menos extensa. Em criança, quando via passar à minha porta uma mulher prenhada e já andava muito devagar ou via movimentos apressados da «Julha» do Fena, parteira da aldeia, por «reforma» da Tia Antónia do Xico Maria, para alguma casa ou casebre era certo que ia parir. Os garotos iam todos para a rua ou para casa de alguma vizinha, porque aquilo era obra de mulheres. Com bacias de água quente e rezas pelo meio lá vinha a notícia de mais um raparigo e que era beijado por toda a família, como se fosse o «bilhete» para fazer parte do clã. Nunca me lembro de vir algum médico à aldeia por uma situação mais complicada. Não havia d

Antigo caneco da água

Antigo caneco da água, usado na cozinha Antigo caneco da água (imagem composta) Aproveitando-se a imagem cedida pela Câmara Municipal de Vila Real, aquando do visionamento em determinada altura de uma projeção de imagens intitulada "Detalhes Postais", por Duarte Carvalho e Albertino Correia, descreve-se, tanto quanto é possível, um objeto usado na cozinha de qualquer dona de casa simples, das aldeias transmontanas e durienses e, naturalmente, de outros lugares de Portugal. Por curiosidade, essa projeção de imagens decorreu no Museu de Numismática de Vila Real, no dia 12 de dezembro de 2013, pelas 21:30 horas. O objeto designado por "caneco" consistia numa vasilha construída de madeira, por processos artesanais, formando um conjunto de aduelas (tábuas preparadas também para as pipas de vinho mas em ponto pequeno), dispostas circularmente e apertadas por faixas metálicas de uns cinco centímetros de largura, mais ou menos. O caneco, de cinquenta centímetros de altura e

Vilar de Perdizes

Vilar de Perdizes: Congresso de medicina popular Vilar de Perdizes é uma aldeia da União de Freguesias Vilar de Perdizes e Meixide, do concelho de Montalegre, distrito de Vila Real, no norte de Trás-os-Montes, Portugal. A localidade de Vilar de Perdizes fica praticamente em cima da fronteira com Espanha, muito próxima das aldeias espanholas de Fideferre, Espiño e San Millao. O mistério, a bruxaria, o espiritismo e as mezinhas ou remédios caseiros são palavras associadas à cultura destes lugares de que Vilar de Perdizes é o centro, terra onde, todos os anos, no início de setembro, acontece o Congresso de Medicina Popular, cujo mentor é o Padre Fontes , amante e precursor da dinâmica da cultura popular da região onde nasceu. Começando dos costumes transmontanos e concretamente os da aldeia de Vilar de Perdizes e lugares circunvizinhos, o Padre Fontes, ao longo dos anos, conseguiu fazer ressurgir, praticamente do nada, tradições antigas que se mostram agora no Congresso e através de outro

Panela e Pichorro

Muito se exigia da panela de barro preto! Desde conservar sangue de porco antes da enchida, fazer o arroz das vessadas, cozer as batatas ou o caldo, muito se exigia da panela de barro preto! Nas longas noites de Inverno, em que a chuva tocada a vento se abatia sobre a telha vã da cozinha, rezava-mos o terço, enquanto as castanhas coziam doces e farinhudas na panela redonda. Ao terminar as orações obrigatórias estavam as castanhas no ponto de ser comidas, como se mão invisível articulasse esta sincronia infalível. A alguma distância do tresfogueiro, o pichorro grande aveludava o vinho para nossa companhia e das castanhas. À volta do fogo, para o qual tudo convergia, a tia comandava a oração e nós respondíamos de forma acelerada, a avó num latim distorcido e o avô no canto do escano, mantinha-se de olhos fechados e em silêncio, como se meditasse profundamente. A concentração e o recolhimento eram sempre quebrados por um gato, que inspirado no

Casa do Careto, em Podence

Caretos e matrafonas de Podence Na Casa do Careto encontra-se o registo da tradição carnavalesca da aldeia de Podence, do concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, associada aos caretos, representados nas telas das pintoras Graça Morais, Balbina Mendes e outros artistas da região. Fotografias e algumas publicações encontram-se também naquele lugar. Estão expostos os fatos, os chocalhos, as máscaras e toda a indumentária dessas figuras sedutoras e enigmáticas, imagens diabólicas e de mistério que, anualmente, animam as ruas da aldeia de Podence, festas e feiras do distrito. Lá estão também os únicos seres que os Caretos "respeitam" nas suas tropelias, gritarias e chocalhadas, na altura do carnaval - as matrafonas. A Casa do Careto encontra-se aberta todo o ano em horário de acordo com a tasquinha regional anexa. Casa do Careto, Podence

O ciclo do pão

Morais - O ciclo do pão por João de Deus Rodrigues Ceifa e malha do trigo (Reconstituição) Há já alguns anos que a freguesia de Morais, com o apoio da Câmara Municipal de Macedo, tem levado a efeito a reconstituição da ceifa e da malha do trigo.  É sabido que as cópias, mesmo parecendo iguais, não são como os originais. Também aqui a ceifa e a malhada do trigo, não são como nos tempos em que eram a sério… Quando se saía de casa, antes do nascer do sol, acompanhado por uma burra com a cântara de barro cheia de água, nos alforges, e os vincelhos, para atar o pão, em cima da albarda… Hoje, quando os ceifeiros saíram para o campo já o sol ia alto, e todos partiram de automóvel… Às oito horas, começaram a juntar-se na Praça os ceifeiros: homens, mulheres e jovens. Lá estavam a Iria, a Maria, a Laurinda, a Dulce, a Isabel, o Domingos Afonso, o Alexandre Geraldes, o Manuel Morais, o João Ramos, o Luís, o Modesto Afonso (o lavrador que cedeu a leira de trigo para

Linhos de Agarez

Artesanato: linhos de Agarez, Vila Real Tear Em tempos idos, uma boa parte das famílias e casas de lavradores da região tinham à sua disposição teares, essas máquinas interessantíssimas para tecer, naturalmente mais ou menos complexas de acordo com as posses financeiras, pois um tear era construído com sabedoria e habilidade, tarefa só ao alcance de alguns. O tear da foto não é um desses a que me refiro. É um tear de mesa, de dimensões mais reduzidas que os de Agarez, contudo, semelhante na complexidade, servindo igualmente para tecer peças mais pequenas. Encontra-se atualmente no ArteAzul’Atelier, em Vila Real, para aprimoramento da sua estrutura, com objetivos de investigação da arte de tecer e, eventualmente, realização de algumas obras. Linho Outros teares, ou pelo menos vestígios estarão ainda na posse de algumas famílias, em certas aldeias, como em Agarez, a mais representativa, mas também Mondrões e Couto de Adoufe, entre outras no concelho de Vila Real, onde algumas artesãs con

As sardinheiras da Torre de Dona Chama

Torre de Dona Chama, concelho de Mirandela Jorge Lage Torre de Dona Chama, Mirandela As sardinheiras eram um grupo de pessoas pobres que, num Portugal rural e com muito pouca mão-de-obra assalariada, tentava conseguir o sustento para a sua casa e fintar a morte pela fome. Contudo, as lavradeiras pequenas e remediadas ao verem-lhe fazer negócio, lançavam para o ar o dito: «a sardinheira vende sardinha e come galinha». Inicio esta memória deste comércio móvel rural pela Torre de Dona Chama por ter conseguido os dados com facilidade. Ao arrolar a enumeração dos que se dedicavam à venda da sardinha cabeçuda, da escochuda ou escochada (sem cabeça) e do chicharro, à volta dos anos cinquenta, temos um rol de sardinheiras e sardinheiros: a Tia Lucília, o Ti Carlos Costa Polimenta, a Tia Maria Gucha, a Tia Marquinhas Guerra, o Ti Tavares e a Ti Maria Calhelhos.

Malhada

Dia da Malhada, no Barroso "Tornar o dia" Tourém, Montalegre A malhada consistia em bater com o malho para debulhar, nas eiras, os cereais. O sistema utilizado nas malhadas era o de "tornar o dia", ou seja, pagava-se o trabalho retribuindo com a participação na malhada de quem tinha ajudado. Assim, não se pagava a jeira aos trabalhadores. O dono do cereal que era malhado na eira oferecia aos trabalhadores comida e bebida constantes, abundantes e da melhor qualidade. Ao barrê la eira o binho num bem Se num bem o binho Num barre ninguém. No entanto, Tourém (freguesia do concelho de Montalegre) é uma exceção a este costume: neste dia não se usava dar a comida aos trabalhadores; cada um ia comer a sua casa. Informação recolhida no Ecomuseu de Barroso, em Montalegre

Responso a Santa Bárbara

Responso a Santa Bárbara, contra as trovoadas enviado por Jorge Lage Santa Bárbara Bendita se vestiu e se calçou suas santas mãos lavou Jesus Cristo encontrou e o Senhor perguntou: - onde vais Bárbara? - Senhor, eu ao Céu vou. - Vai, Barbarinha, vai manda esta trovoada para onde não haja pão nem vinho, nem bafo de menino pequenino. Onde só haja uma serpente sem nada que lhe dar senão aguinha da fonte e areias do mar. Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, um Padre Nosso e uma ave Maria. (Barroso da Fonte in «55 Orações Marianas» - 2013, de Manuela Morais) Nota: Numa má hora da tormenta podia ir toda a colheita. Santa Bárbara (Oração)

Cantaria e perpianho

A arte da cantaria e do perpianho por Jorge Lage Os canteiros de Abadim - Terras de Basto A arte da cantaria e do perpianho Há muito tempo me encantei pelos poemas, recordações e escritos do amigo Abílio Bastos, carpinteiro de profissão, de grande carácter. Emigrante de sucesso e artista da madeira na América. Por isso convenci-o, contra a sua vontade, a ir-me passando algumas memórias escritas. Assim, partilho mais um «poema inédito» de 1963 e que nos fala da arte da pedra dos canteiros. Mais, este curto apontamento etnográfico, da dura e artística labuta da pedra, aparecendo a quadra abaixo como forma de aliviar o esforço titânico dos pedreiros, fazendo, com ajuda de roldana, içar as cantarias trabalhadas para as paredes das casas. Em 1960, os artistas de Abadim (sob a orientação do mestre) reconstruíram a Igreja de S. Nicolau, ordenada pelo grande abade

Desouriçadores

Desouriçadores de Castanha Desouriçadores de castanha Nas suas pesquisas pelos caminhos da etnografia, Jorge Lage, escritor enraizado na cultura popular, persistente na busca e na preservação da verdade dos costumes antigos, muito especialmente da sua região - Trás-os-Montes -, especialista na temática que envolve a castanha e o castanheiro, oferece, através dos seus escritos e dos seus livros, muito da história antepassada das gentes transmontanas. Jorge Lage, contribuidor assíduo deste blogue - o NetBila -, enviou-nos desta vez uma foto por si obtida no Museu Etnográfico de Aldeia do Bispo - Guarda - “Museu da Castanha". Esta imagem faz-nos lembrar que não é fácil extrair, apenas com as mãos, as castanhas dos ouriços - invólucros espinhosos onde se desenvolve o fruto do castanheiro. Assim, os antigos, para esse efeito utilizavam instrumentos adequados - os desouriçadores de castanha.

O ritmo agrícola

Calendário dos trabalhos agrícolas Da revista "Trás-os-Montes", em determinado tempo, retirámos ensinamentos simples que convém recordar ou mesmo aprender sobre as alturas mais convenientes do ano para a realização dos principais trabalhos agrícolas. As estrelas e luas do céu marcam o ritmo das atividades agrícolas em Trás-os-Montes.  De dezembro a janeiro, apanha-se a azeitona.  De janeiro a março, lavra-se a terra. Depois, a seguir à lavra da terra, são os trabalhos da horta, da vinha, do olival e da sementeira das batatas. De maio a junho, cortam-se os fenos e as malhadas fazem-se até agosto.  Em setembro, fazem-se as vindimas.  De outubro a novembro, semeia-se o centeio. Dados recolhidos da revista "Trás-os-Montes"

Natal do Pandegueiro e do Gaiteiro

Natal: para quê tantas compras, tantos presentes, tantos faz de conta? por Jorge Lage Linguagem popular Quem me conhece sabe que não sou muito entusiasta do Natal, questionando-me: – para quê tantas compras, tantos presentes, tantos faz de conta? A noite de Natal ou de consoada sempre foi parca em casa dos meus pais. É claro que havia os tachos e as travessas de gemalte que se enchiam de filhózes e rabanadas, de polvo frito em ovo e salsa. As filhós e rabanadas eram regadas com molho de mel (e canela). Mel da montanha da Padrela, que a minha mãe trocava por azeite, ao Ti «Joeu». Trazia-o em cântaros de cortiça e lata, nas cangalhas sobre o dorso do pachorrento jumentico. As grandes travessas de faiança do cavalinho e outras de porcelana enchiam-se de aletria pobre (só com leite e sem ovos) e polvilhada com canela, deixando rastos de desenhos geométricos a indicarem como devia ser retalhada. Era comida à fatia e à mão ou em cima de trigo, sêmea ou charrão. O meu Pai não dispensava os bo

O escano

O escano, por Jorge Lage O Scano Dormem os camponeses no teu regaço, Ó scano de uma vida imorredoira. Toca-se do teu canto a dobadoira, Vai navegando tudo no teu espaço. Saltam para ti felinos na noite fria Tombam na cinza tamancos que o lume cresta. Serves de abrigo aos torgos de urzes e giesta E és berço de menino durante o dia. Cai sobre ti uma tábua à refeição Nela se poisam malgas de barro grosso, De mãos erguidas rezam o pai-nosso, Antes do caldo servir partem o pão… E pela noite dentro, juntos na vida, Rezam a oração na despedida, Uns elevam a voz ao sono resistindo, Outros: - amém! - respondem, já dormindo. Há sempre uma brasa viva na lareira, Ficas tu e ela. - Adeus meu scano lindo! Abadim, 1959, de Abílio Bastos Os velhos escanos das nossas antigas lareiras são dos que mais histórias nos podiam contar e de terços rezados. O pai do Abílio, como não tinha «rosairo», para a reza servia-se do martelo para cada um dos mistérios e ao fim de cada dezena virava a fac

O Carnaval na minha infância

O Carnaval na minha infância por João de Deus Rodrigues (memórias) Foi antanho, é passado, Mas a memória devolve tudo: Uma mulher, a roca, o linho fiado, Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo! Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada. Uma pedra que sai da mão, E a cabeça rachada, ao carpinteiro João. Uma mulher, as estopas a arder, A ousadia, o drama, a agressão. Porque os homens da aldeia faziam tudo, Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo, Para manter viva a tradição. Enquanto na cozinha, à luz da candeia, Quatro gerações junto à lareira, Festejavam o carnaval, sem máscaras, Essas coisas do demónio tentador, Porque só eram permitidas brincadeiras, De deitar farinha na cabeça, E contar “estórias”, não muito brejeiras… E toda aquela boa gente, De cara descoberta, alegre e contente, Passava a noite de carnaval, Com uma estridente gargalhada, Até ao clarear da madrugada... Era assim o Carnaval na minha infância, Em casa dos meus avós materno

Responso de S. Justo

Responso de S. Justo Para livrar de todos os perigos por Jorge Lage Jesus, Santo nome de Jesus! (3 vezes) Justo Juiz final, Filho da Virgem Maria. Foste nado em Belém, E em vale de Jacaria. Peço, Senhor, nesta hora, E neste dia, Que livreis e guardeis, Toda a minha família, De noite e mais de dia. Quem for para lhe bater, Prender ou algum mal lhe fazer, Maus olhos não os vejam, Má boca não lhe fale, Maus braços não os abracem, Más pernas não os alcancem, Como disse Nosso Senhor Jesus Cristo ao seu discípulo. Fasta-te e elo (3 vezes) Com armas de Cristo, andem guardados, Com leite da Virgem Maria, orvalhadas, Pelo sangue de Nossa Senhora e Jesus Cristo. Tragam sempre sempre no corpo deles, Para não serem presos, nem mortos, Caminhos andarão, bons e maus, E encontrarão os bons. Passarão os maus, Não os verão. Queria Deus que eles sejam, De noite e mais de dia, Como foi Jesus Cristo Dentro do ventre da Virgem Maria. Eu os entrego a Jesus, E à flor donde E

Enterro do Bacalhau

Enterro do Bacalhau, tradição popular de Vila Real Costume de Vila Real, em tempos que já lá vão. Chico Costa, em Crónicas de Vila Real (1987), conta como era. Na noite de Sábado Aleluia saía o Enterro do Bacalhau. " À frente, um esquadrão de cavalaria, com terno de clarins, da tropa do Matadouro, abria o cortejo. Seguiam-se na sua máxima força as tropas do Cimo do Campo da Rua dos Ferreiros. Um bacalhau enorme, feito de cartão, enfiado num garoto, seguia escoltado pelos últimos militares... ". Havia também carrascos, juízes, advogados. E testemunhas: " As de acusação estavam a cargo dos criados dos talhos; as testemunhas de defesa eram marçanos das mercearias ". Passo de procissão, archotes, muito povo, " Um coro de carpideiras acaudatava o préstito ". Seguia-se o julgamento que redundava numa " hilariante paródia aos acontecimentos locais ". Finalmente, o bacalhau era enforcado, ouvindo-se versos humorísticos. Os merceeiros, por exemplo, cantav

Os pastores

O pior para um pastor brioso era acancelar as reses cheias de fome Os pastores por Jorge Lage Em finais da década de cinquenta, há cerca se sessenta anos, só na minha aldeia havia uns oito rebanhos de gado, a saber: dos Pinto Azevedo (de Vale Pradinhos – Macedo de Cavaleiros) cujo pastor era o António Mateus, de alcunha «o Sardinha» que tinha uma memória prodigiosa; do casal do Capitão Ilídio Esteves, sendo pastor o Abel Caldeiras, dos homens mais íntegros e sérios que conheci, embora tivesse mau vinho; do Correia de Oliveira onde pastoreava o Miguel Mateus; do meu tio, António José Lage; do meu pai, Eugénio Lage, cujo pastor mais marcante foi «o Canhoto» (Adriano); do Carlos Meireles, cujo pastor mais sonante foi «o Campainha»; o dos Abelhas, por vezes, com o Arlindo mais no trabalho de paquete e o Rôla (João) como pastor; e o do Casal dos Limas. Com tantas cabeças de canhonas para alimentar não havia erva nem arbusto que crescesse muito. Incêndios só nalgumas moutas de silvas. E esta